Alunas em Sala de Aula

Observando uma plataforma modelo

José de Oliveira Júnior[1]

Resumo:

O ensi­no adap­ta­ti­vo vem sendo apre­sen­ta­do como uma tendên­cia ino­vado­ra, capaz de ofer­e­cer a pro­fes­sores e alunos opor­tu­nidade de avanços reais no proces­so de ensi­no apren­diza­gem. Mas a ideia de cus­tomizar a ofer­ta de con­teú­dos edu­ca­cionais molda­dos às neces­si­dades indi­vid­u­ais e especí­fi­cas de cada aluno é de fato bas­tante anti­ga, e o méto­do pro­pos­to na atu­al­i­dade toma par­tido de avanços recentes da tec­nolo­gia da infor­mação, asso­ci­a­dos a análise de bases de dados para com­preen­der mel­hor a apren­diza­gem a nív­el indi­vid­ual, e assim per­son­alizar méto­do e con­teú­dos edu­ca­cionais. Este arti­go ques­tiona a dis­tân­cia entre con­ceito e práti­ca, a par­tir do exame de caso de uma platafor­ma dig­i­tal de ensi­no online adap­ta­ti­vo, bus­can­do demon­strar as lim­i­tações e lacu­nas entre expec­ta­ti­vas, mar­ket­ing e efe­ti­vo resul­ta­do de tec­nolo­gias edu­ca­cionais aprimoradas.

Palavras-chave: edu­cação à dis­tân­cia, platafor­ma adap­ta­ti­va, tec­nolo­gia edu­ca­cional, inteligên­cia arti­fi­cial, tril­has de aprendizagem.

Abstract:

Adap­tive teach­ing has been pre­sent­ed as an inno­v­a­tive trend, capa­ble of offer­ing teach­ers and stu­dents oppor­tu­ni­ties for real advances in the teach­ing learn­ing process. But the idea of cus­tomiz­ing the pro­vi­sion of edu­ca­tion­al con­tent tai­lored to the indi­vid­ual and spe­cif­ic needs of each stu­dent is actu­al­ly quite old, and the method pro­posed today takes advan­tage of recent advances in infor­ma­tion tech­nol­o­gy, asso­ci­at­ed with data­base analy­sis to bet­ter under­stand learn­ing at the indi­vid­ual lev­el, and thus cus­tomize edu­ca­tion­al method and con­tent. This paper ques­tions the gap between con­cept and prac­tice, from the case exam­i­na­tion of a dig­i­tal adap­tive online learn­ing plat­form, seek­ing to demon­strate the lim­i­ta­tions and gaps between expec­ta­tions, mar­ket­ing, and actu­al out­come of enhanced edu­ca­tion­al technologies.

Key­words: dis­tance edu­ca­tion, adap­tive plat­form, edu­ca­tion­al tech­nol­o­gy, arti­fi­cial intel­li­gence, learn­ing path.

1 Intro­dução

O ensi­no adap­ta­ti­vo é uma forte e indis­cutív­el tendên­cia na edu­cação dig­i­tal recente. De fato, recomen­dações de enti­dades de estu­dos e pesquisa que influ­en­ci­am os inves­ti­men­tos globais em edu­cação online aler­tam para a importân­cia do ensi­no adap­ta­ti­vo (adap­tive learn­ing) em espe­cial no con­tex­to pós pan­demia COVID.

Neste tex­to, começamos por mapear esta tendên­cia nas refer­ên­cias de enti­dades de pesquisa de mer­ca­do e de tendên­cias de ino­vação em edu­cação, de for­ma a con­fron­tá-las com as abor­da­gens de per­fil acadêmico.

Em segui­da, propo­mos recon­hecer no mar­ket­ing de algu­mas platafor­mas disponíveis no mer­ca­do ele­men­tos do con­ceito, ele­gen­do uma delas para apro­fun­dar a com­preen­são da pro­pos­ta de per­son­al­iza­ção, que é o grande atra­ti­vo da metodologia.

Esta abor­dagem nos per­mite explic­i­tar, ao cabo, o dis­tan­ci­a­men­to entre as promes­sas de desen­volvi­men­to de tec­nolo­gias edu­ca­cionais las­treadas em fer­ra­men­tas de pon­ta no cam­po da com­putação móv­el, big data e inteligên­cia arti­fi­cial e os resul­ta­dos efe­tivos que os edu­cadores pre­ten­dem bus­car para o avanço nos proces­sos de ensino-aprendizagem.

Assim, nos­sa pro­pos­ta de tra­bal­ha bus­ca revis­ar algu­ma lit­er­atu­ra recente sobre o assun­to, em espe­cial para detec­tar a tendên­cia apon­ta­da de cresci­men­to destas platafor­mas especí­fi­cos den­tro do mer­ca­do de e‑learning, e simul­tane­a­mente lev­an­tar ele­men­tos para um estu­do de caso, para avançar na com­preen­são das pro­postas do ensi­no adaptativo.

2 Ensi­no Adap­ta­ti­vo como tendên­cia do mercado

O relatório do Gart­ner Group sobre tendên­cias de mer­ca­do para edu­cação do que chamam de K‑12 (expressão usa­da pelos amer­i­canos para des­ig­nar os anos esco­lares entre o iní­cio da edu­cação for­mal até o ensi­no médio, abrangen­do, nos padrões daque­le país, 12 anos esco­lares) inclui o adap­tive learn­ing como uma das cin­co prin­ci­pais metodolo­gias (Williams, 2021, p. 1) a mere­cer atenção pri­or­itária de edu­cadores e diri­gentes de insti­tu­ições educacionais.

Chamam atenção dois pon­tos: o uso da apren­diza­gem adap­ta­ti­va basea­da em inteligên­cia arti­fi­cial; e a pre­ten­são de quê essa abor­dagem pos­sa ser mais útil no con­tex­to de recu­per­ação das pos­síveis per­das dos estu­dantes pelo lap­so provo­ca­do pela pan­demia da COVID (Williams, 2021, p. 12).  Além dis­so, con­sid­era que a ade­quação da tec­nolo­gia aos ambi­entes vir­tu­ais (AVA) já pre­sentes em diver­sas insti­tu­ições é um fator facil­i­ta­dor da dis­sem­i­nação do método.

Já o CoSN (Con­sor­tium for School Net­work­ing), enti­dade que con­gre­ga insti­tu­ições e pes­soas (stake­hold­ers) em sis­temas de ensi­no esco­lar dig­i­tal, igual­mente men­ciona entre as tec­nolo­gias líderes, esta­b­ele­cen­do a dis­tinção entre téc­ni­cas analíti­cas e adap­ta­ti­vas (COSN, 2020, COSN inno­va­tion sur­vey reveals key k‑12 hur­dles, accel­er­a­tors and tech­nol­o­gy enablers for 2020, [s.d.]). A impor­tante dis­tinção deri­va da ênfase em tec­nolo­gias de análise de dados (ana­lyt­i­cal), aspec­to impor­tante a for­t­ale­cer as metodolo­gias de personalização.

 Um ter­ceiro relatório, um pouco ante­ri­or aos já cita­dos, é o da DOCEBO – empre­sa fab­ri­cante de soft­ware edu­ca­cional, de tradi­cional influên­cia no mer­ca­do. Em 2016, eles tratavam como “apren­diza­gem per­son­al­iza­da” todo o con­jun­to de “de pro­gra­mas edu­ca­cionais, exper­iên­cias de apren­diza­gem, abor­da­gens instru­cionais e estraté­gias de suporte acadêmi­co des­ti­nadas a aten­der às neces­si­dades especí­fi­cas de apren­diza­gem, inter­ess­es, aspi­rações ou ori­gens cul­tur­ais de alunos indi­vid­u­ais” (Doce­bo, 2016, p. 25, tradução do autor).

Em todos ess­es relatórios cita­dos, a expec­ta­ti­va do seg­men­to do ensi­no adap­ta­ti­vo (ain­da que even­tual­mente des­ig­na­do como ensi­no per­son­al­iza­do) e as fer­ra­men­tas tec­nológ­i­cas que o acom­pan­ham, como o uso de big data, ana­lyt­ics e inteligên­cia arti­fi­cial, são apre­sen­ta­dos como tendên­cias de forte cresci­men­to den­tro do e‑learning, cujas cifras no mer­ca­do mundi­al de edu­cação são gigan­tescas, o que é cor­rob­o­ra­do por cen­te­nas de menções em arti­gos e blogs que dis­cutem e‑learning.

 

3 Adesão de empre­sas líderes

 

No cenário mundi­al pós-COVID as insti­tu­ições de pesquisa mostram tendên­cias expo­nen­ci­ais de cresci­men­to do uso do ensi­no adap­ta­ti­vo. Mas a crença no ensi­no per­son­al­iza­do é bas­tante anti­ga na edu­cação, talvez tão anti­ga quan­to a própria esco­la enquan­to insti­tu­ição social. Mes­mo no mun­do da edu­cação dig­i­tal, resul­ta­dos pos­i­tivos do ensi­no adap­ta­ti­vo são acom­pan­hados e demon­stra­dos por play­ers bas­tante influentes.

Em 2014 a fun­dação Gates (de Bill e Melin­da Gates), apre­sen­ta­va relatórios demon­stran­do a mel­ho­ria de resul­ta­dos edu­ca­cionais em dis­ci­plinas como matemáti­ca e lín­guas, com o uso de platafor­mas de ensi­no per­son­al­iza­do (Rand, 2014, p. 1). Os resul­ta­dos das pesquisas demon­stran­do mel­ho­rias de resul­ta­dos per­sis­tem sendo repor­ta­dos na rede, em diver­sos blogs espe­cial­iza­dos, como por exem­p­lo em Raudys (2021).

A revista Time amer­i­cana desta­cou a decisão de Mark Zucker­berg e Priscil­la Chan, ele prin­ci­pal cri­ador do Face­book, no anún­cio da doação de maior parte da for­tu­na pes­soal de ambos para ações de cari­dade. O foco da des­ti­nação dos recur­sos bil­ionários, avis­aram, seria “apren­diza­do per­son­al­iza­do, cura de doenças, conexão de pes­soas e con­strução de comu­nidades fortes” (Edwards, 2015, p. 1).

Google, Face­book, Microsoft.… são real­mente pesos pesa­dos da tec­nolo­gia falan­do de ensi­no per­son­al­iza­do ou adap­ta­ti­vo. Mas na mes­ma reportagem da Time, um impor­tante aler­ta de enti­dades amer­i­canas de edu­cação desta­ca um pon­to cen­tral: “Não há evidên­cias de que a apren­diza­gem online ou com­bi­na­da fun­cione para mel­ho­rar o ensi­no ou leve a uma apren­diza­gem per­son­al­iza­da real”, disse Leonie Haim­son, da Par­ent Coali­tion for Stu­dent Pri­va­cy. “Em vez dis­so, isso é real­mente um apren­diza­do des­per­son­al­iza­do por meio de máquinas… fer­ra­men­tas de apren­diza­gem per­son­al­izadas são prej­u­di­ci­ais para o desen­volvi­men­to das habil­i­dades de pen­sa­men­to críti­co dos alunos, uma vez que reduzem a inter­ação humana na sala de aula” (Edwards, 2015, tradução livre do autor).

4 O con­ceito: per­son­al­iza­ção e adaptação

Em Teix­eira & Lima (2020), repro­duzin­do con­ceito atribuí­do a Rosen­berg, encon­tramos um con­heci­do resumo das car­ac­terís­ti­cas prin­ci­pais nor­mal­mente atribuí­das ao ensi­no adaptativo’

“1. Apoia-se em redes infor­máti­cas, e a uti­liza­ção da inter­net per­mite a atu­al­iza­ção, o

des­do­bra­men­to e a dis­tribuição das infor­mações de for­ma prati­ca­mente instan­tânea, bem como a par­tic­i­pação em comu­nidades de apren­diza­gem; 2. Desen­volve-se por meio de tec­nolo­gia padroniza­da de inter­net, o que per­mite disponi­bi­lizar toda a infor­mação no com­puta­dor do usuário; 3. Baseia-se na apren­diza­gem em seu sig­nifi­ca­do mais amp­lo” Teix­eira & Lima (2020, p. 3).

Já para Sil­va (2016), “foi na déca­da de 1990 que o ensi­no adap­ta­ti­vo gan­hou força, dev­i­do à grande uti­liza­ção da web, e a procu­ra de adapt­abil­i­dade dos sis­temas aos usuários surgiu com grande força com o sis­tema de hiper­mí­dia adap­ta­ti­va… Essa adap­tação do ensi­no ocorre a par­tir do feed­back, pos­i­ti­vo ou neg­a­ti­vo, do aluno durante a real­iza­ção das ativi­dades. Percebe-se que essa adap­tação pode acon­te­cer a par­tir de out­ros req­ui­si­tos como o con­tex­to e os esti­los de apren­diza­gem” (Sil­va, 2016, p. 24).

Como se vê, há uma difer­ença a ser bus­ca­da no que sig­nifi­ca a “per­son­al­iza­ção” quan­do falam­os de metodolo­gias de ensi­no híbri­do, no qual o papel do pro­fes­sor encon­tra-se medi­a­do por tec­nolo­gias dig­i­tais. A per­son­al­iza­ção, nesse caso, é trata­da pelo feed­back que é por si só “padroniza­da”. Ou seja, é uma per­son­al­iza­ção medi­a­da por com­puta­dor, no qual o estu­dante pro­por­ciona feed­back sobre var­iáveis já pre­vi­a­mente con­heci­das e delim­i­tadas pela capaci­dade de “inteligên­cia” do sistema.

5 Platafor­mas de tec­nolo­gia adaptativa

A evolução do con­ceito, como vimos, enfa­ti­za a importân­cia da inteligên­cia arti­fi­cial, promes­sa tec­nológ­i­ca para sis­temas de inteligên­cia mais aprox­i­ma­da dos padrões humanos. Observe que um req­ui­si­to de apli­cação da IA (inteligên­cia arti­fi­cial) é a existên­cia de grandes con­jun­tos de dados (big data) trata­dos por téc­ni­cas espe­ci­ais de análise (ana­lyt­i­cal). Sem ess­es req­ui­si­tos não há como se aplicar a IA, porém a cole­ta e trata­men­to de dados não garante em nada a existên­cia de sis­temas de fato inteligentes.

E aqui cheg­amos ao cerne da questão fun­da­men­tal deste arti­go: as platafor­mas que pudemos obser­var, ain­da que de maneira pre­lim­i­nar, não são efe­ti­va­mente capazes de garan­tir um tipo de ensi­no que se pos­sa chamar de “per­son­al­iza­do”, mas ape­nas de per­mi­tir, den­tre algu­mas pou­cas opções de ofer­ta de con­teú­dos, rotas ou “tril­has” de apren­diza­gem ajus­tadas ao feed­back pro­por­ciona­do pelo aluno.

Talvez as tril­has, out­ra expressão na moda, pos­sam ser úteis, como podemos apren­der nesse tra­bal­ho: “As tril­has de apren­diza­gem podem ser enten­di­das como um con­jun­to sis­temáti­co e mul­ti­modal de unidades de apren­diza­gem, con­tendo difer­entes esque­mas de nave­g­ação, que podem ir des­de mod­e­los lin­ear­es, pre­s­critivos, pas­san­do-se por mod­e­los mais hierárquicos, e chegan­do-se a mod­e­los em rede, cuja nave­g­ação é mais livre, e ten­do como propósi­to o desen­volvi­men­to de com­petên­cias. Ess­es esque­mas de nave­g­ação podem ser per­son­al­iza­dos, com base em var­iáveis como obje­tivos, per­fil do aluno e car­ac­terís­ti­cas de apren­diza­gem” (Lopes & Lima, 2019, p. 9).

As tril­has são uma for­ma de esta­b­ele­cer ativi­dades de ensi­no em uma sequên­cia orga­ni­za­da e plane­ja­da, per­mitin­do ao estu­dante apreen­der os con­teú­dos de maneira mais eficiente.

 

3 Obser­van­do platafor­mas disponíveis

Uma platafor­ma exam­i­na­da pelo autor foi a Mosa­ic, autoin­ti­t­u­la­do jus­ta­mente uma “adap­tive per­son­al­ized learn­ing” (Mosa­ic, [s.d.]). Facil­mente uti­lizáv­el, a platafor­ma apre­sen­ta fer­ra­men­tas muito inter­es­sante para a autoapren­diza­gem, per­mitin­do o login de qual­quer usuário e facil­i­tan­do o diag­nós­ti­co ini­cial medi­ante a apre­sen­tação de algu­mas telas interativas.

Para jus­ti­ficar nos­sa hipótese ini­cial de tra­bal­ho, a tela repro­duzi­da abaixo é bas­tante elu­cida­ti­va. Tra­ta-se das opções de apren­diza­gem para a dis­ci­plina de matemáti­ca, no âmbito dos graus con­tem­pla­dos na des­ig­nação amer­i­cana de K‑12. Como se pode ver, ela não dis­pen­sa os rig­orosos padrões de apren­diza­gem e cer­ti­fi­cação forte­mente pre­sentes no sis­tema de ensi­no americano.

Pelo con­trário, a expressão “adap­tive” e “learn­ing paths” se coad­unam com as hipóte­ses que temos bus­ca­do demon­strar: a per­son­al­iza­ção do ensi­no sobre pre­mis­sas bas­tante estri­tas de padrões ante­ri­or­mente esta­b­ele­ci­dos, no qual a facil­i­tação do ensi­no ocorre, de fato, mas ape­nas entre dis­tin­tas tril­has para o aprendizado.

 

 

Aqui avançamos a segun­da hipótese: a uti­liza­ção de tec­nolo­gias de inteligên­cia arti­fi­cial não se traduz, até o momen­to, em uma pro­pos­ta de ensi­no efe­ti­va­mente mais capaz de se ante­ci­par às neces­si­dades dos apren­dizes e ofer­e­cer recur­sos difer­en­ci­a­dos do ambi­ente tec­nológi­co. Ao con­trário, os sis­temas exam­i­na­dos oper­am ape­nas ofer­e­cen­do alter­na­ti­vas entre roteiros difer­en­ci­a­dos para o con­teú­do já pre­vi­a­mente desenhado.

 

Out­ras platafor­mas nas quais o autor teve opor­tu­nidade de se inscr­ev­er como aluno e avançar nas pre­lim­inares de cus­tomiza­ção não fogem ao pon­to aqui descrito. É o caso, por exem­p­lo, da platafor­ma brasileira Geekie Games na qual se “garante um roteiro de apren­diza­gem de acor­do com as neces­si­dades de cada aluno, com resul­ta­dos mais efi­cazes; (Teix­eira & Lima, 2020, p. 5).

De for­ma semel­hante à Mosa­ic, o Geekie Games tam­bém tra­bal­ha sobre um méto­do forte­mente asso­ci­a­do ao padrão de per­gun­tas e respostas do ENEM, o Exame Nacional do Ensi­no Médio brasileiro, que por sua vez esta­b­elece um padrão, facil­i­tan­do a adoção da plataforma.

Situ­ações sim­i­lares podem ser ver­i­fi­cadas em out­ras platafor­mas, ape­sar de que o autor não pode testá-las como estu­dante em razão dos critérios e restrições de aces­so definidos pelos seus man­tene­dores, mas a própria descrição do obje­to já ref­er­en­da a ideia de tra­bal­har com mod­e­los padroniza­dos de avali­ação de apren­diza­gem, como no caso da PAM – Platafor­ma Adap­ta­ti­va de Matemáti­ca, uti­liza­da no sis­tema de ensi­no médio do Uruguai.

“Ao tra­bal­har na série, a PAM dá ao aluno feed­back sobre cada ativi­dade, seja ela des­ig­na­da pelo seu pro­fes­sor, ou escol­hi­da livre­mente por ele. No caso de come­ter erros sis­temáti­cos, a PAM sug­ere áreas de mel­ho­ria. Elas são Séries que bus­cam retomar, seja o con­ceito em que o aluno come­teu erros, ou con­ceitos bási­cos ante­ri­ores dele. Esse aspec­to da PAM é o con­ceito de uma platafor­ma adap­ta­ti­va no plano macro. No plano micro, dá ao aluno feed­back ime­di­a­to. Quan­do está real­izan­do uma Série, se desem­pen­ha uma ativi­dade cor­re­ta­mente, o aluno é infor­ma­do e se propõe a ele a seguinte ativi­dade; se come­ter um erro, é infor­ma­do, dan­do-lhe a pos­si­bil­i­dade de realizar a ativi­dade nova­mente, e se come­ter um erro nova­mente antes de pas­sar para a próx­i­ma ativi­dade, é mostra­da uma pos­sív­el solução, acom­pan­ha­da de uma expli­cação (Tes­ta & Téllez, 2019, p. 111).”

Podemos assim con­sid­er­ar, diante da amostra de platafor­mas exam­i­nadas, que as pos­si­bil­i­dades atu­ais ofer­tadas no mer­ca­do edu­ca­cional dig­i­tal sob a des­ig­nação de platafor­mas adap­ta­ti­vas se apro­pri­am jus­ta­mente de dis­ci­plinas ou ramos de con­hec­i­men­to nos quais os obje­tivos de ensi­no-apren­diza­gem estão sub­meti­dos a padrões rig­orosos e métri­c­as de avali­ação definidas por escores bas­tante reg­u­lares. Ou seja, “adap­tam-se” de for­ma per­son­al­iza­da a cada aluno, mas com a margem de escol­ha delim­i­ta­da pelos padrões cur­ric­u­lares bem rig­orosos existentes.

3 Con­sid­er­ações Finais 

Neste tex­to, começamos por con­statar a importân­cia cres­cente atribuí­da à modal­i­dade de ensi­no adap­ta­ti­vo no port­fólio das grandes orga­ni­za­ções de ensi­no digital.

Esta tendên­cia de cresci­men­to é ates­ta­da por enti­dades de pesquisa de abrangên­cia mundi­al, e se repete em diver­sos relatórios de ativi­dades e prognós­ti­cos de tendên­cias apre­sen­ta­dos nos últi­mos anos por difer­entes orga­ni­za­ções de pesquisa.

Além dis­so, a crise pos­te­ri­or à Pan­demia COVID ger­ou, a nív­el mundi­al, graves dese­qui­líbrios nos sis­temas de ensi­no, cau­san­do pre­juí­zo a mil­hões de pes­soas que tivram que inter­romper ativi­dades edu­ca­cionais e pri­orizar modal­i­dades de ensi­no à dis­tân­cia. Neste con­tex­to, o ensi­no adap­ta­ti­vo para ser bas­tante indi­ca­do para avaliar os pre­juí­zos à per­for­mance da apren­diza­gem, e assim recomen­dar cam­in­hos mais efi­cientes para a recu­per­ação das eta­pas perdidas.

Mas se essa tendên­cia parece tão urgente ago­ra, vimos que ela foi de fato ante­ci­pa­da por líderes empre­sari­ais da área de tec­nolo­gia, que tin­ham como per­spec­ti­va usar méto­dos adap­ta­tivos supor­ta­dos por tec­nolo­gias de inteligên­cia arti­fi­cial. Nesse sen­ti­do, a fun­dação de Bill Gates, o bil­ionário cri­ador do Face­book, entre out­ros per­son­agens igual­mente rel­e­vantes, já fazi­am a defe­sa de méto­dos de ensi­no per­son­al­iza­dos no ambi­ente dig­i­tal há pela menos uma década.

A análise de algu­mas platafor­mas especí­fi­cas de ensi­no adap­ta­ti­vo, porém, lev­a­da a cabo para o desen­volvi­men­to deste paper, demon­stra as lim­i­tações práti­cas exis­tentes para a per­son­al­iza­ção do ensino.

Bus­camos demon­strar que a per­son­al­iza­ção até ago­ra, baseia-se em méto­dos analíti­cos apli­ca­dos sobre­tu­do a con­teú­dos padroniza­dos, como é como em algu­mas dis­ci­plinas, como a matemáti­ca, ou aos sis­temas de avali­ação padroniza­dos, como o ENEM no caso brasileiro.

Assim, as platafor­mas adap­ta­ti­vas bus­cam com­preen­der as difi­cul­dades dos alunos diante dos padrões exis­tentes para daí pro­por abor­da­gens difer­en­ci­adas de con­teú­dos pre­vi­a­mente plane­ja­dos e pro­duzi­dos, que podemos tratar como tril­has de aprendizagem

No que impor­ta esta difer­ença? Na per­cepção de que o mar­ket­ing de uma espé­cie de super­in­teligên­cia arti­fi­cial dis­tante até da nos­sa capaci­dade de com­preen­são estaria a pre­sidir uma nova abor­dagem de ensi­no capaz de pro­duzir resul­ta­dos poten­cial­mente muito superiores.

Esta, ain­da que pos­sa ser uma alter­na­ti­va de pesquisa para o futuro da tec­nolo­gia, ain­da está dis­tante do que os mod­e­los atu­ais têm a ofer­e­cer. O que não sig­nifi­ca que os mod­e­los atu­ais sejam ruins, mas difer­en­ciar a capaci­dade de ensi­no apren­diza­gem e o real poten­cial da edu­cação à dis­tân­cia não pode se lim­i­tar ape­nas a repro­duzir o mar­ket­ing de inter­esse da grande indús­tria de tec­nolo­gia da infor­mação. Decifrar os lim­ites e com­preen­der a efe­tivi­dade real das fer­ra­men­tas disponíveis con­tin­ua sendo a grande tare­fa edu­ca­cional dos professores.

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[1] Econ­o­mista. Espe­cial­ista em Ciên­cias Soci­ais (Esta­do e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreende­doris­mo. Mes­tran­do em Tec­nolo­gias Emer­gentes em Edu­cação pela Must University.

E‑mail josedeoliveira.junior@gmail.com.

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Oliveira Jr.

Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University, 2022).

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