
- 15/10/2021
- Oliveira Jr.
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Considerações para utilização no e‑learning
José de Oliveira Júnior[1]
Resumo:
Este breve artigo se apoia na literatura disponível para questionar a seleção de plataformas ou ferramentas de colaboração em ambientes virtuais de aprendizagem, com a intenção de facilitar seu uso pelos produtores de conteúdo educacional. Iniciando pela importância do conceito de colaboração e compartilhamento no ambiente tecnológico, em especial na internet contemporânea, apresenta propostas vigentes para uma taxonomia de ferramentas colaborativas disponíveis e suas possibilidades de inserção em ambientes virtuais de aprendizagem, enfatizando a colaboração como prática intrínseca ao próprio ambiente da WEB.
Palavras-chave: e‑learning, educação à distância, plataforma colaborativa, ferramentas colaborativas, tecnologia educacional.
Abstract:
This brief article draws on the available literature to question the selection of collaborative platforms or tools in virtual learning environments, with the intention of facilitating their use by producers of educational content. Starting from the importance of the concept of collaboration and sharing in the technological environment, especially in the contemporary Internet, it presents current proposals for a taxonomy of available collaborative tools and their possibilities of insertion in virtual learning environments, emphasizing collaboration as a practice intrinsic to the WEB environment itself.
1 Introdução
O conceito de colaboração é extraordinariamente amplo quando usado para designar seu uso em ferramentas computacionais modernas, e tornou-se praticamente um lugar comum para referenciar avanços tecnológicos nas plataformas de software aplicativo mais comercializadas para empresas. Como atitude humana, colaborar designa um valor moral bem aceito pela sociedade, devendo ser estendido e entendido como tudo aquilo que permite ou auxilia a execução do trabalho por mais de uma pessoa, em conjunto ou através de ações comuns ou compartilhadas, podendo ser associado a outros valores, como a solidariedade (Patrus, 2013).
Podemos facilmente verificar que, apesar do número vertiginoso de diferentes aplicações, de produtos que beiram a genialidade e que aparecem quase que de repente, a partir da iniciativa de pequenos desenvolvedores de softwares aplicativos, o grosso do mercado e do faturamento sobre o que é chamado de “soluções de colaboração” dirige-se ao GAFAM, sigla que identifica as empresas Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft, dentre os quais a liderança para esta área de produtos vem se mantendo com a primeira da lista (Gaspar, 2019).
Claro que a diversidade de produtos e objetivos demonstrada pela listagem de produtos oferecidos no mercado de software não impedem a adoção de tipologia de ferramentas. Contudo, para os propósitos desse artigo optamos por fazer isso já buscando, na área da educação, o conceito, fundamento e ferramentas de uma aprendizagem colaborativa.
2.1 Colaboração nos AVA – Ambientes Virtuais de Aprendizagem
Em um estudo sobre as comunidades de aprendizagem Nunes enfatiza o papel da colaboração no processo, e afirma que “a colaboração é defendida como uma das principais características das comunidades [de aprendizagem] levando os alunos a buscar níveis de profundidade de conhecimento além dos estabelecidos pelo projeto do curso, por levar a um processo compartilhado de construção” Nunes (2012, p. 47).
É praticamente unânime a constatação de que a colaboração, tanto mais facilitada, contribui de forma indiscutivelmente positiva na relação de ensino-aprendizagem, inclusive (e talvez até mais enfaticamente) quando se dá de forma horizontalizada, permitindo a fluência da informação entre os alunos. Embora a afirmativa possa ser generalizada para outros tipos de relação de ensino, o ambiente virtual propicia condições melhores para a aplicação de softwares colaborativos, implementando o que chamamos aqui de ferramentas colaborativas.
Por isso os AVA – Ambientes Virtuais de Aprendizagem podem funcionar com um espaço próprio, um lócus para encapsular diversas ferramentas colaborativas guiadas pelo projeto pedagógico. Noutros termos, “os AVAs unificam funcionalidades de aprendizagem designadamente de comunicação, partilha de conteúdo multimídia, de alojamento online de projetos e trabalhos, ferramentas de aprendizagem colaborativas, acesso imediato a websites, ferramentas de controlo do acesso e registo de utilizadores, assim como gestão de grupos de trabalho” (Alves et al. 2014, p. 2).
Sistemas digitais avançados de ensino-aprendizagem, portanto, encerrarão em seu conteúdo diversas ferramentas colaborativas, que funcionam esplendidamente para potencializar a aprendizagem, mas cujo plano e manejo deverão se subordinar aos objetivos educacionais pretendidos.
Assim, a lista enorme de ferramentas inicialmente apresentada sinaliza a existência de um amplo repertório de recursos do qual se pode lançar mão para propósitos educacionais no mundo virtual. Na mesma pesquisa já mencionada, uma revisão sistemática de ferramentas foi realizada, tornado “possível levantar quais as ferramentas que estão sendo mais utilizadas em AVAs (Alves, Kuntz, Gonzalez, Ulbricht, & Macedo, 2014, p. 7)).
Este tipo de iniciativa permite colocar alguma ordem na confusão, como veremos a seguir, usando ferramentas colaborativas como passo adiante na proposição do AVA, para alcançar resultados mais efetivos na aprendizagem colaborativa, como propões Santos e Lencastre: “Apesar de a utilização de plataformas como o Moodle estar ainda muito circunscrita ao funcionamento como repositório de materiais a distribuir aos alunos, e de as próprias TIC, quando estão presentes na sala de aula, serem utilizadas frequentemente de forma não interativa, é possível propor reconfigurações do espaço-aula alternativas que procurem ir mais além, e daí procurar ganhos em matéria pedagógica, nomeadamente na promoção do trabalho colaborativo. (Santos & Lencastre, 2017, p. 6)”.
2.2 Uma taxonomia para ambientes de colaboração
Antes de entrar no aspecto das ferramentas de colaboração, é útil em tender a necessidade de uma proposta de taxonomia mais ampla, das tecnologias digitais usadas na educação. Diversos autores têm se debruçado sob este problema, a partir da constatação de que a quantidade de soluções digitais encontráveis no mercado tende a um número impossível de ser acompanhado caso a caso.
Rodrigues (2015) recorre a Manning e Johnson e resumem a proposta desses autores na definição de uma tipologia de ferramentas, bastante útil para diversos estudos na área da educação, em especial relativos à avaliação de maturidade das tecnologias e, ao cabo, modelos decisórios para a seleção de ferramentas sob distintos quadros teóricos de elaboração de conteúdo digital educacional, como por exemplo no modelo ADDIE, entre outros. No âmbito deste artigo, cumpre-nos apenas enfatizar a importância dessa linha de pesquisa, que, contudo, vai bem além das ferramentas de colaboração.

Como vimos, propor tipologias de distintas ferramentas digitais para tarefas colaborativas, pode ser bastante útil para facilitar a tarefa de curadoria de ferramentas digitais de apoio ao ensino-aprendizagem. Esse foi de certa forma o foco de Reinaldo, Renó, & Costa, (2010), a comparar “produtos e soluções” e propondo a seguinte lista de tipos:
- “Ferramentas de Escrita Colaborativa e Tecnologias: ferramentas que permitem a diversos indivíduos editar e rever documentos, com edição em tempo real (síncrono) ou mediada (assíncrono);
- Ferramentas de Compartilhamento de Tela e Tecnologias: tal como o nome indica, trata-se de ferramentas que permitem partilhar aplicações ou conteúdos que estamos a visualizar no nosso monitor;
- Ferramentas de Quadro Branco e Tecnologias: ferramentas que permitem a utilização de um espaço comum (a equivalente digital dos quadros utilizados, por exemplo, numa sala de aulas). As utilizações são as mais variadas, permitindo algumas a utilização para o desenho conjunto de modelos, ou, simplesmente um espaço complementar integrado em aplicações de web conference;
- Ferramentas de Apresentação e Tecnologias: refere-se aquelas aplicações que permitem ao usuário disponibilizar conteúdos diretamente para uma página de internet, de forma dinâmica e até com a integração de outras aplicações na mesma apresentação;
- Ferramentas de Mensagens Instantâneas e Tecnologias: talvez a mais antiga ferramenta colaborativa, os instant messaging ganharam novas funcionalidades, além de vídeo e áudio, como o detector de presença na rede, por exemplo, o skype awareness indicator nos blogs;
- Publicação e Compartilhamento de Vídeos On-line para Aprendizagem e Colaboração”: [a exemplo do] YouTube e do GoogleVideo.…” (Reinaldo, Renó, & Costa, 2010, p. 583).
3 Um diálogo possível: aprender e colaborar
“Paulo Freire disse que ninguém educa ninguém, mas ninguém se educa a si mesmo. O processo de educação vem, portanto, da comunhão dos homens, mediatizados pelo mundo. A tecnologia tem sua função como parte deste meio, já que pode promover a colaboração e interação entre os homens; é, portanto, fundamental nos processos pedagógicos e educacionais (Soffner, 2016, p. 160)”.
É possível encontrar um número significativo de estudos acadêmicos que examinam aplicações práticas de ferramentas ditas colaborativas, voltadas a um sem-número de aplicações educacionais. É praticamente unânime a noção de que a ampliação de práticas de comunicação, colaboração e cooperação fortalecem os vínculos entre os participantes dos ambientes de aprendizagem, estimulando uma grande riqueza de troca de informações e vivências e, portanto, resultados enriquecedores sob vários aspectos de objetivos educacionais.
Mas a colaboração pode se tornar bastante intuitiva, quando todos os recursos de design são utilizados, explorando de forma inovadora as imensas possibilidades do design na WEB, em jogos interativos, por exemplo. Assim, áridas aplicações em matemática, desenho, na física, na educação especial – utilizando tecnologias assistivas, e explorando também as novas possibilidades de interação em redes, ampliam oportunidades de aprendizagem colaborativa.
Mas o alerta importante é que a existência das possibilidades e a facilidade de uso das ferramentas não resultam em práticas de ensino e aprendizagem realmente colaborativas. Nesse aspecto, as novas atribuições de professores e designers educacional alcançam grande relevância. Como afirmam Ulbricht et ali “Apenas o uso de ferramentas ditas colaborativas não faz com que o material seja realmente colaborativo. É preciso que se configurem as situações de interação, colaboração e de aprendizado. Neste sentido, as questões de design e de acessibilidade são fundamentais tendo como meta a inclusão de todos. (Ulbricht, Gonzalez, Alves, Kuntz, & Macedo, [s.d.], p. 94)”.
4 Considerações Finais
“Segundo os construtivistas o conhecimento não é um objeto adquirido e possuído por indivíduos. Ele está embutido nas relações sociais e na identidade dos aprendizes, nas conversações e discursos sociais. Nesse sentido, a aprendizagem é o resultado de uma negociação social. Quando os aprendizes compartilham ideias, questionam entre si outras crenças, argumentam sobre o sentido de alguma coisa, eles estão construindo o conhecimento da comunidade, e estabelecendo sua identidade. Quando pessoas constroem socialmente o pensamento, o meio primário do discurso é um relato (Prata, 2000, p. 29).”
Tentamos neste artigo guiar os interessados por um percurso que iniciou na constatação de que a expressão “colaboração” adjetiva uma miríade de ferramentas de mercado de software, consistindo em um apelo de marketing que parece ser bastante efetivo, pela quantidade de produtos associados a ele.
Mas apesar do apelo do mercado, de fato, práticas colaborativas no trabalho e na aprendizagem são tidas, regra geral, como capazes de aumentar grandemente a produtividades e melhorar os resultados. De uma maneira genérica, a própria WEB responde a um sonho de ampliação da interação e colaboração, vislumbrado por Vannevar Bush desde a concepção da máquina MEMEX, dos primórdios da computação, e embutidos na definição hoje tão familiar para nós, do protocolo de hipertexto HTML.
Para nos guiar por escolhas efetivas de ferramentas precisamos buscar tipologias dos produtos existentes. Recuperamos então uma proposta específica para o ambiente de ensino-aprendizagem, que contempla categorias distintas de uso que auxilia o professor ou educacional designer na inclusão de práticas colaborativas nos seus projetos educacionais. Em especial, os AVA – Ambiente Virtuais de Aprendizagem encerram uma pluralidade de usos que requerem, estimulam e facilitam o uso de tecnologias com ênfase em colaboração.
Desta forma podemos falar de propostas de taxonomia para as ferramentas digitais usadas no e-learning. Estas propostas auxiliam não apenas a facilitar a escolha de produtos de software, mas a compreender padrões e métricas de avaliação de ferramentas, auxiliando no planejamento e utilização de plataformas de ensino-aprendizagem.
E assim concluímos um círculo virtuoso: colaborar ou compartilhar são, mais que práticas laborais ou educativas, práticas essenciais à vida humana em sociedade. Reproduzir tais práticas nos meios digitais, que tomaram conta de parcela tão significativa do nosso trabalho e das nossas escolas, é uma escolha óbvia para o aprimoramento da educação. Mas que requer, dos profissionais do ramo, uma cuidadosa seleção, ou curadoria, das ferramentas existentes e adequação das melhores práticas.
5 Referências Bibliográficas
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Zednik, H., Tarouco, L. M. R., Klering, L., García-Valcárcel, A., & Guerra, E. P. M. (2014). Tecnologias Digitais na Educação: Proposta taxonômica para apoio à integração da tecnologia em sala de aula. Anais do Workshop de Informática na Escola, 20(1), 507–516. https://doi.org/10.5753/cbie.wie.2014.507
[1] Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University.
E‑mail josedeoliveira.junior@gmail.com.
