Óculos para o metaverso

O recente anún­cio em out­ubro de 2021, por Mark Zucker­berg — todo poderoso CEO do Face­book – rep­re­sen­tou uma joga­da de mar­ket­ing de estron­doso efeito, com ime­di­a­ta reper­cussão no mer­ca­do finan­ceiro e ger­ação de um enorme con­teú­do na impren­sa e redes soci­ais rela­ciona­do ao novo e fasci­nante pro­du­to embal­a­do pela sigla cor­po­ra­ti­vo do grupo econômi­co, que pas­sou a chamar-se de META, em rev­er­en­ciosa refer­ên­cia ao metaverso.

A razão de tan­to alarde tem sól­i­da base econômi­ca. Mas o que real­mente des­per­tou o imag­inário das pes­soas foi a descrição de um “novo mun­do” vir­tu­al, reple­to de efeitos mar­avil­hosos e descrito como se de fato fos­se um mun­do de ficção e magia. Com o uso de dis­pos­i­tivos vir­tu­ais ino­vadores, tec­nolo­gias como real­i­dade aumen­ta­da e out­ras ino­vações, dizem que as pes­soas poderão rela­cionar-se através de avatares, garan­ti­n­do-se a segu­rança e pri­vaci­dade, rev­olu­cio­nan­do o ensi­no e, mais ain­da, o con­hec­i­men­to e as for­mas de inter­ação humanas que hoje conhecemos.

Neste rápi­do arti­go, bus­camos avaliar de maneira mais sóbria as razões de taman­ha expec­ta­ti­va e sug­erir um roteiro de reflexão sobre as pos­si­bil­i­dades edu­ca­cionais de uso da tec­nolo­gia anun­ci­a­da. Começamos por sep­a­rar rotas dis­tin­tas para a com­preen­são do fenô­meno: des­de aque­las esta­b­ele­ci­das pela lóg­i­ca econômi­ca e do poder de mer­ca­do das grandes empre­sas de tec­nolo­gia à expec­ta­ti­va das mudanças que poderão ter maior sig­nifi­ca­do na educação.

AS CINCO GRANDES – “BIG FIVE TECHS

Cos­tu­ma ser subes­ti­ma­do o pode­rio econômi­co e grau de con­cen­tração alcança­do pelas grandes empre­sas de tec­nolo­gia, que se acen­tu­ou bas­tante durante o perío­do da pan­demia COVID19.

Os val­ores envolvi­dos nas ativi­dades dessas empre­sas são extra­ordinários: segun­do Jorge (2021), as “cin­co grandes empre­sas de tec­nolo­gia são ago­ra mais ric­as do que a maio­r­ia dos país­es do mun­do”. A esti­ma­ti­va, fei­ta após a divul­gação dos bal­anços de 2021 mostra que jun­tos eles ger­am a mes­ma recei­ta que a Espan­ha – 14ª. potên­cia mundi­al: “cada uma dessas empre­sas que dom­i­nam nos­sas vidas gan­ha mais din­heiro do que 134 país­es ao redor do mun­do… a empre­sa fun­da­da por Jeff Bezos há 27 anos deve fat­u­rar colos­sais £ 286 bil­hões até 2021 como um todo … isso é mais do que o 33º país mais rico do mun­do, as Fil­ip­inas, vai ger­ar este ano. A Apple é tão rica quan­to a econo­mia de Hong Kong – o poder finan­ceiro do Extremo Ori­ente”, afir­ma Jorge (2021).

A expres­sivi­dade dessas cifras desnu­da o taman­ho dos inter­ess­es econômi­cos por trás do mar­ket­ing das grandes com­pan­hias e expli­ca por si só a reper­cussão do anún­cio de Zucker­berg. Afi­nal, des­de o lança­men­to dos primeiros com­puta­dores pes­soais as empre­sas explo­ram um cer­to cul­to à per­son­al­i­dade dos seus diri­gentes, que se mis­tu­ra à iden­ti­dade dos seus pro­du­tos, povoan­do o imag­inário dos cré­du­los com seus exem­p­los pes­soais de capaci­dade cria­ti­va e ger­ação de for­tu­na. Dos dez maiores bil­ionários do mun­do, segun­do a lista da Forbes, nada menos que cin­co têm seus negó­cios pre­dom­i­nan­te­mente lig­a­dos à tec­nolo­gia (Forbes Bil­lion­aires, 2021).

METAVERSO COMO NOVIDADE TECNOLÓGICA

Ape­sar do retum­bante suces­so de mar­ket­ing, foi pequeno o avanço na car­ac­ter­i­za­ção da tec­nolo­gia envolvi­da. Pouco se acres­cen­tou ao que já se sabia sobre o tema, ape­sar dos mil­hares de posts repro­duzi­dos na mídia em escala planetária.

Para um exem­p­lo de con­ceito, entre vários sim­i­lares, “metaver­so pode ser expli­ca­do como um ambi­ente vir­tu­al imer­si­vo, capaz de repro­duzir exper­iên­cias da vida real, seja para ampli­ar seu hor­i­zonte ou cri­ar um novo uni­ver­so. Essa real­i­dade para­lela cria infini­tas pos­si­bil­i­dades, como a con­strução de uma vida social, a orga­ni­za­ção de reuniões ou a inter­a­tivi­dade em jogos.…” segun­do Nóbre­ga (2021).

Mas ambi­entes vir­tu­ais mais próx­i­mos à exper­iên­cia humana é jus­ta­mente o que se bus­cou nas mil­hares de ino­vações intro­duzi­das pelo avanço tec­nolo­gia das últi­mas décadas. Sem dúvi­da, hou­ve imen­sos avanços na inter­ação e imer­são vir­tu­al, que ficaram mais real­is­tas e acessíveis sobre­tu­do com o adven­to da com­putação móv­el. Talvez por isso, sem­pre que ten­tam descr­ev­er o metaver­so a grande maio­r­ia dos tex­tos men­ciona games e redes soci­ais, como o pri­mogêni­to deles, denom­i­na­do “sec­ond life”. Sob esse aspec­to o anún­cio de Zucker­berg não foi capaz de avançar no que já se con­hecia deste cenário.

POSSIBILIDADES PARA A EDUCAÇÃO E CULTURA

Mas no anún­cio do novo nome, a Meta indi­cou o “cam­in­ho que pre­tende tril­har … US$ 150 mil­hões em inves­ti­men­tos no seu Face­book Real­i­ty Labs, crian­do um pro­gra­ma de edu­cação para aux­il­iar no desen­volvi­men­to de tec­nolo­gia e treinar pes­soas para usar fer­ra­men­tas de real­i­dade aumen­ta­da e real­i­dade vir­tu­al. Para isso, fez parce­rias com a Cours­era e a edX”, afir­ma Pujol (2021), desta­can­do a visão da empre­sa de que o novo “mun­do” tec­nológi­co teria na edu­cação um alvo pri­or­itário, um locus priv­i­le­gia­do nes­ta dis­pu­ta por hege­mo­nia cultural.

Novi­dade? Nem tan­to. Em Schlem­mer & Back­es (2008, p. 521), encon­tramos refer­ên­cias sig­ni­fica­ti­vas para o con­tex­to da edu­cação: “A ideia de metaver­so, emb­o­ra descri­ta com out­ros ter­mos, surge em 1984, em livros como Neu­ro­mancer, de William Gib­son. Entre­tan­to, o ter­mo metaver­so, em si, foi cri­a­do pelo escritor Neal Stephen­son no iní­cio da déca­da de 90, em um romance pós-mod­er­no, inti­t­u­la­do Snow Crash (em por­tuguês Samu­rai: Nome de Códi­go).” A aval­ição dos autores na época con­clui tax­a­ti­va­mente que “usar uma nova tec­nolo­gia não garante ino­vação, a ino­vação está na for­ma cria­ti­va de uti­lizá-la, na for­ma como aproveita­mos todas as poten­cial­i­dades para os proces­sos de ensi­no e de apren­diza­gem, de out­ra for­ma, podemos estar sim­ples­mente falan­do de uma novi­dade e não de uma ino­vação” (Schlem­mer & Back­es, 2008, p. 530).

O QUE NOS LEVA A CONCLUIR…

Pouco acon­te­ceu de fato no anún­cio de Zuck­berg sobre a nova “visão” da empre­sa que dirige, exce­to pelo bem-suce­di­do mar­ket­ing. Para imple­men­tar o con­ceito em sua inteireza — ain­da que não seja tão novi­dade assim, como vimos – exis­tem grandes bar­reiras a ser super­adas. Sobre­tu­do na edu­cação e cul­tura, a tec­nolo­gia por si só não opera milagres.

Mas lança um desafio aos profis­sion­ais de edu­cação, que pre­cisam ago­ra habitar a fron­teira da ino­vação tec­nológ­i­ca para bus­car, a par­tir da ade­qua­da for­mação profis­sion­al e abrangente visão éti­ca dos propósi­tos educa­tivos e de mudança social, faz­er dos novos uni­ver­sos pos­síveis um mun­do fér­til para o con­hec­i­men­to transformador.

Neste cenário, o mero deslum­bra­men­to com o pode­rio das grandes indús­trias e dos bil­ionários das empre­sas de tec­nolo­gia não con­tribui, e pre­cisa ser sub­sti­tuí­do por um pen­sa­men­to mais críti­co e humanitário.


Referências

Forbes Bil­lion­aires. (2021). Forbes. https://www.forbes.com/billionaires/.

Jorge, C. (2021, agos­to 1). Cin­co grandes empre­sas de tec­nolo­gia, incluin­do Face­book e Ama­zon, são ago­ra mais ric­as do que a maior parte do mun­do. Are­na 4G. https://arena4g.com/cinco-grandes-empresas-de-tecnologia-incluindo-facebook-e-amazon-sao-agora-mais-ricas-do-que-a-maior-parte-do-mundo/

Nobre­ga, I. (2021). Poder Expli­ca: Sai­ba o que é o Metaver­so, nova apos­ta do Face­book. Poder360. https://www.poder360.com.br/tecnologia/poder360-explica-saiba-o-que-e-o-metaverso-nova-aposta-do-facebook/

Pujol, L. (2021, novem­bro 10). Como será a edu­cação apli­ca­da a um metaver­so. Desafios da Edu­cação. https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/educacao-aplicada-a-um-metaverso/

Schlem­mer, E., & Back­es, L. (2008). METAVERSOS: Novos espaços para con­strução do con­hec­i­men­to. Revista Diál­o­go Edu­ca­cional, 8(24), 519–532. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=189116834014

Imagem desta­ca­da: Pho­to by Quang Tri NGUYEN on Unsplash

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Oliveira Jr.

Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University, 2022).

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