
- 19/01/2022
- Oliveira Jr.
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O recente anúncio em outubro de 2021, por Mark Zuckerberg — todo poderoso CEO do Facebook – representou uma jogada de marketing de estrondoso efeito, com imediata repercussão no mercado financeiro e geração de um enorme conteúdo na imprensa e redes sociais relacionado ao novo e fascinante produto embalado pela sigla corporativo do grupo econômico, que passou a chamar-se de META, em reverenciosa referência ao metaverso.
A razão de tanto alarde tem sólida base econômica. Mas o que realmente despertou o imaginário das pessoas foi a descrição de um “novo mundo” virtual, repleto de efeitos maravilhosos e descrito como se de fato fosse um mundo de ficção e magia. Com o uso de dispositivos virtuais inovadores, tecnologias como realidade aumentada e outras inovações, dizem que as pessoas poderão relacionar-se através de avatares, garantindo-se a segurança e privacidade, revolucionando o ensino e, mais ainda, o conhecimento e as formas de interação humanas que hoje conhecemos.
Neste rápido artigo, buscamos avaliar de maneira mais sóbria as razões de tamanha expectativa e sugerir um roteiro de reflexão sobre as possibilidades educacionais de uso da tecnologia anunciada. Começamos por separar rotas distintas para a compreensão do fenômeno: desde aquelas estabelecidas pela lógica econômica e do poder de mercado das grandes empresas de tecnologia à expectativa das mudanças que poderão ter maior significado na educação.
AS CINCO GRANDES – “BIG FIVE TECHS”
Costuma ser subestimado o poderio econômico e grau de concentração alcançado pelas grandes empresas de tecnologia, que se acentuou bastante durante o período da pandemia COVID19.
Os valores envolvidos nas atividades dessas empresas são extraordinários: segundo Jorge (2021), as “cinco grandes empresas de tecnologia são agora mais ricas do que a maioria dos países do mundo”. A estimativa, feita após a divulgação dos balanços de 2021 mostra que juntos eles geram a mesma receita que a Espanha – 14ª. potência mundial: “cada uma dessas empresas que dominam nossas vidas ganha mais dinheiro do que 134 países ao redor do mundo… a empresa fundada por Jeff Bezos há 27 anos deve faturar colossais £ 286 bilhões até 2021 como um todo … isso é mais do que o 33º país mais rico do mundo, as Filipinas, vai gerar este ano. A Apple é tão rica quanto a economia de Hong Kong – o poder financeiro do Extremo Oriente”, afirma Jorge (2021).
A expressividade dessas cifras desnuda o tamanho dos interesses econômicos por trás do marketing das grandes companhias e explica por si só a repercussão do anúncio de Zuckerberg. Afinal, desde o lançamento dos primeiros computadores pessoais as empresas exploram um certo culto à personalidade dos seus dirigentes, que se mistura à identidade dos seus produtos, povoando o imaginário dos crédulos com seus exemplos pessoais de capacidade criativa e geração de fortuna. Dos dez maiores bilionários do mundo, segundo a lista da Forbes, nada menos que cinco têm seus negócios predominantemente ligados à tecnologia (Forbes Billionaires, 2021).
METAVERSO COMO NOVIDADE TECNOLÓGICA
Apesar do retumbante sucesso de marketing, foi pequeno o avanço na caracterização da tecnologia envolvida. Pouco se acrescentou ao que já se sabia sobre o tema, apesar dos milhares de posts reproduzidos na mídia em escala planetária.
Para um exemplo de conceito, entre vários similares, “metaverso pode ser explicado como um ambiente virtual imersivo, capaz de reproduzir experiências da vida real, seja para ampliar seu horizonte ou criar um novo universo. Essa realidade paralela cria infinitas possibilidades, como a construção de uma vida social, a organização de reuniões ou a interatividade em jogos.…” segundo Nóbrega (2021).
Mas ambientes virtuais mais próximos à experiência humana é justamente o que se buscou nas milhares de inovações introduzidas pelo avanço tecnologia das últimas décadas. Sem dúvida, houve imensos avanços na interação e imersão virtual, que ficaram mais realistas e acessíveis sobretudo com o advento da computação móvel. Talvez por isso, sempre que tentam descrever o metaverso a grande maioria dos textos menciona games e redes sociais, como o primogênito deles, denominado “second life”. Sob esse aspecto o anúncio de Zuckerberg não foi capaz de avançar no que já se conhecia deste cenário.
POSSIBILIDADES PARA A EDUCAÇÃO E CULTURA
Mas no anúncio do novo nome, a Meta indicou o “caminho que pretende trilhar … US$ 150 milhões em investimentos no seu Facebook Reality Labs, criando um programa de educação para auxiliar no desenvolvimento de tecnologia e treinar pessoas para usar ferramentas de realidade aumentada e realidade virtual. Para isso, fez parcerias com a Coursera e a edX”, afirma Pujol (2021), destacando a visão da empresa de que o novo “mundo” tecnológico teria na educação um alvo prioritário, um locus privilegiado nesta disputa por hegemonia cultural.
Novidade? Nem tanto. Em Schlemmer & Backes (2008, p. 521), encontramos referências significativas para o contexto da educação: “A ideia de metaverso, embora descrita com outros termos, surge em 1984, em livros como Neuromancer, de William Gibson. Entretanto, o termo metaverso, em si, foi criado pelo escritor Neal Stephenson no início da década de 90, em um romance pós-moderno, intitulado Snow Crash (em português Samurai: Nome de Código).” A avalição dos autores na época conclui taxativamente que “usar uma nova tecnologia não garante inovação, a inovação está na forma criativa de utilizá-la, na forma como aproveitamos todas as potencialidades para os processos de ensino e de aprendizagem, de outra forma, podemos estar simplesmente falando de uma novidade e não de uma inovação” (Schlemmer & Backes, 2008, p. 530).
O QUE NOS LEVA A CONCLUIR…
Pouco aconteceu de fato no anúncio de Zuckberg sobre a nova “visão” da empresa que dirige, exceto pelo bem-sucedido marketing. Para implementar o conceito em sua inteireza — ainda que não seja tão novidade assim, como vimos – existem grandes barreiras a ser superadas. Sobretudo na educação e cultura, a tecnologia por si só não opera milagres.
Mas lança um desafio aos profissionais de educação, que precisam agora habitar a fronteira da inovação tecnológica para buscar, a partir da adequada formação profissional e abrangente visão ética dos propósitos educativos e de mudança social, fazer dos novos universos possíveis um mundo fértil para o conhecimento transformador.
Neste cenário, o mero deslumbramento com o poderio das grandes indústrias e dos bilionários das empresas de tecnologia não contribui, e precisa ser substituído por um pensamento mais crítico e humanitário.
Referências
Forbes Billionaires. (2021). Forbes. https://www.forbes.com/billionaires/.
Jorge, C. (2021, agosto 1). Cinco grandes empresas de tecnologia, incluindo Facebook e Amazon, são agora mais ricas do que a maior parte do mundo. Arena 4G. https://arena4g.com/cinco-grandes-empresas-de-tecnologia-incluindo-facebook-e-amazon-sao-agora-mais-ricas-do-que-a-maior-parte-do-mundo/
Nobrega, I. (2021). Poder Explica: Saiba o que é o Metaverso, nova aposta do Facebook. Poder360. https://www.poder360.com.br/tecnologia/poder360-explica-saiba-o-que-e-o-metaverso-nova-aposta-do-facebook/
Pujol, L. (2021, novembro 10). Como será a educação aplicada a um metaverso. Desafios da Educação. https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/educacao-aplicada-a-um-metaverso/
Schlemmer, E., & Backes, L. (2008). METAVERSOS: Novos espaços para construção do conhecimento. Revista Diálogo Educacional, 8(24), 519–532. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=189116834014
Imagem destacada: Photo by Quang Tri NGUYEN on Unsplash
1 comments on “Metaverso como Tecnologia Educacional”
Fantástico!