Pequena imagem de Buda sobre folha

José de Oliveira Júnior [1]

Resumo:

A diver­si­dade é um tema recor­rente e de grande sig­nifi­ca­do nos estu­dos recentes sobre a sociedade e edu­cação con­tem­porâneas. Neste tex­to, procu­ramos res­gatar aspec­tos dessa abor­dagem em arti­gos acadêmi­cos, para avançar na com­preen­são do con­ceito e das suas con­se­quên­cias na edu­cação e no ensi­no, bem como sobre a gestão esco­lar. Sobre­tu­do, enfa­ti­zamos a dis­cussão de val­ores éti­cos trazi­da pela com­preen­são da diver­si­dade e do respeito ao humano, sob quais­quer das suas faces con­sti­tu­ti­vas. Enten­demos que a igual­dade é o val­or éti­co pri­or­itário, e por isso con­cluí­mos pela críti­ca a abor­da­gens que ocul­tam a desigual­dade sob o trata­men­to da diver­si­dade, em espe­cial aos que trans­for­mam o con­ceito em um obje­to util­itário e sub­or­di­na­do da gestão empresarial.

Palavras-chave: Diver­si­dade. Igual­dade. Éti­ca. Edu­cação. Gestão Educacional.

Abstract:

Diver­si­ty is a recur­rent theme and of great sig­nif­i­cance in recent stud­ies on con­tem­po­rary soci­ety and edu­ca­tion. In this text, we have tried to res­cue sev­er­al aspects of this approach in aca­d­e­m­ic arti­cles to advance the under­stand­ing of the con­cept and its con­se­quences on edu­ca­tion and teach­ing, as well as on school man­age­ment. Above all, we empha­size the dis­cus­sion on eth­i­cal val­ues brought about by the under­stand­ing of diver­si­ty and respect for the human being, under any of its con­sti­tu­tive faces. We under­stand that equal­i­ty is the pri­or­i­ty eth­i­cal val­ue, and for this rea­son we con­clude by crit­i­ciz­ing approach­es that hide inequal­i­ty under the treat­ment of diver­si­ty, espe­cial­ly those that trans­form the con­cept into a util­i­tar­i­an and sub­or­di­nate object of busi­ness management.

Key­words: Diver­si­ty. Equal­i­ty. Ethics. Edu­ca­tion. Edu­ca­tion­al Management. 

 

1 Intro­dução

Neste milênio, o tema da diver­si­dade alcançou um amp­lo espaço de atenção dos espe­cial­is­tas nas questões soci­ais e edu­ca­cionais, ain­da que sob enfo­ques difer­en­ci­a­dos. De fato, a par­tir do recon­hec­i­men­to da diver­si­dade cul­tur­al como um dos dire­itos bási­cos do homem (UNESCO, 2002), tive­mos uma exten­são e apro­fun­da­men­to do tema, tan­to sobre a per­spec­ti­va da pro­dução int­elec­tu­al acadêmi­ca, como tam­bém da expan­são de polit­i­cas pub­li­cas que recon­hecem, explici­tam e bus­cam pro­mover a gestão da diver­si­dade nas orga­ni­za­ções e na educação.

O sim­ples recon­hec­i­men­to da pri­mazia do tema no debate sobre a ade­quação das políti­cas públi­cas exige uma toma­da de posição políti­ca que dis­tingue cam­pos ide­ológi­cos opos­tos: a da visão do Esta­do como um agente pro­mo­tor de políti­cas soci­ais ati­vas de redução das difer­enças de ren­da e aces­so à riqueza, ou, do out­ro lado, a visão daque­les que defen­d­em pos­turas políti­cas con­ser­vado­ras e min­i­mizam a relevân­cia de políti­cas públi­cas afir­ma­ti­vas de dire­itos da minoria.

Neste tex­to, procu­ramos mostrar que a dis­cussão sobre a diver­si­dade con­tem­pla dile­mas soci­ais com­plex­os e não é isen­ta de con­tro­vér­sias sobre sua abrangên­cia e apli­cação. Par­ti­mos da pre­mis­sa de que é necessário delim­i­tar o con­ceito separando‑o, nos lim­ites do pos­sív­el, das questões iden­titárias e da gestão, delim­i­tan­do sua abrangên­cia, em espe­cial na edu­cação dig­i­tal e nas escolas.

Para isso, usamos como refer­ên­cia de méto­do uma revisão de arti­gos da lit­er­atu­ra acadêmi­ca espe­cial­iza­da, sob um fio con­du­tor que recu­pera a exten­são do con­ceito, inclu­sive “ver­ti­cal­izan­do” um pouco as várias faces abrangi­das, que tem se ampli­a­do em seu escopo des­de o enun­ci­a­do con­ti­do na Declar­ação da UNESCO mencionada.

A quan­ti­dade de questões sub­ja­centes demon­stra, em nos­sa opinião, o taman­ho do prob­le­ma que o tema trouxe ao debate políti­co mod­er­no. É sobre esse panora­ma insti­gante e desafi­ador que bus­camos respon­der, no cam­po edu­ca­cional, ao que se fala hoje sobre a gestão da diver­si­dade e o desafio frente às novas tec­nolo­gias do ensi­no, ques­tio­nan­do ao cabo qual o papel da gestão nesse processo.

 

2 Diver­si­dade, iden­ti­dade, alteridade 

 

A expressão diver­si­dade soz­in­ha nos diz pouco sobre o tema. A palavra ape­nas tra­ta de recon­hecer a existên­cia do diver­so, do difer­ente, daqui­lo que não é igual ou não pos­sui a mes­ma iden­ti­dade. O jogo dialéti­co dos con­ceitos se esta­b­elece em torno da con­tra­posição entre diver­si­dade e iden­ti­dade: só́ pos­so admi­tir a diver­si­dade se recon­heço iden­ti­dades e con­si­go distingui-las.

Na antropolo­gia usa-se o con­ceito de ethos para des­ig­nar aspec­tos que iden­ti­fi­cam um povo ou cole­tivi­dade. O ethos tra­ta da iden­ti­dade cole­ti­va, e nesse sen­ti­do podemos abor­dar a for­mação do ethos – ou seja, da nos­sa con­sciên­cia social de comu­nidade, ou nos­sa iden­ti­dade social. A for­mação do ethos con­tem­porâ­neo traduz um desafio à edu­cação, como afir­mam Strieder&Tedesco (2014).

Como vemos, por exem­p­lo, na for­mu­lação famosa de Hei­deg­ger: “Nen­hu­ma época acu­mu­lou sobre o ser humano con­hec­i­men­tos tão numerosos e tão diver­sos quan­to a nos­sa. Nen­hu­ma época con­seguiu apre­sen­tar seu saber do ser humano sob uma for­ma tão pronta e tão facil­mente acessív­el. Mas tam­bém nen­hu­ma época soube menos o que é o ser humano” (como cita­do por Gusmão&Lima, 2018, p. 151), o quê é um impor­tante aler­ta sobre os dile­mas que esta­mos a enfrentar: perce­ber a diver­si­dade requer a com­preen­são da iden­ti­dade, ou dito de out­ra for­ma, da alteri­dade, daque­les com­po­nentes da nos­sa cul­tura que nos fazem de fato iguais aos out­ros, ain­da que diferentes.

Eu me recon­heço como humano ao com­preen­der essa dialéti­ca; ao me con­tra­por aos out­ros como igual, no plano dos dire­itos e da essên­cia da nos­sa condição exis­ten­cial, e ao mes­mo tem­po difer­ente e capaz de recon­hecer a diver­si­dade dos seres que é um fato con­sti­tu­ti­vo e enrique­ce­dor da min­ha essên­cia humana.

2.1 As várias diversidades 

Percebe­mos que a “diver­si­dade é uma con­strução social. Isso sig­nifi­ca que as dis­tinções não exis­tem em si mes­mas. Elas são sem­pre pro­du­to da cul­tura” (Iavel­berg, 2013). A UNESCO (2002), enquan­to for­mu­lado­ra de ori­en­tações para políti­cas públi­cas, recon­hece — des­de a edição da “Declar­ação Uni­ver­sal sobre a Diver­si­dade Cul­tur­al” — a diver­si­dade como con­sti­tu­inte do patrimônio da humanidade, explic­i­tan­do o recon­hec­i­men­to de dire­itos das mino­rias e dos povos autóctones.

As questões sem­i­nais da diver­si­dade pare­ci­am destacar as questões das mino­rias étni­cas e dos povos autóc­tones sob um pris­ma geopolíti­co, até que o debate sobre gênero se tornou emer­gente. De acor­do com Monte et al., (2020, p. 214), no Brasil, foi a “par­tir da I Con­fer­ên­cia Nacional LGBT em 2008, a União, os Esta­dos, o Dis­tri­to Fed­er­al e os Municí­pios, começam a recon­hecer os dire­itos de cidadãs/ãos LGBT”.

Ao dis­tin­guir sexo e gênero, e enfa­ti­zar a importân­cia desse para a iden­ti­dade, ess­es autores afir­mam que:

“Gênero, por­tan­to, pode ser definido como um pro­du­to social que é assim­i­la­do, rep­re­sen­ta­do, insti­tu­cional­iza­do e repas­sa­do de uma ger­ação para out­ra, traçan­do parâmet­ros do que é ser homem e ser mul­her. Logo, o gênero estru­tu­ra relações de poder desiguais, fazen­do com que a mul­her ou o que se con­figu­ra fem­i­ni­no per­maneça, quase sem­pre, em uma posição sub­al­ter­na na orga­ni­za­ção da vida social” (Monte et al., 2020, p. 215).

Rap­i­da­mente, a com­preen­são da diver­si­dade foi evoluin­do para um recon­hec­i­men­to mais amp­lo desse “espaço” das difer­enças: “Gênero, raça, imi­gração, lín­gua, sex­u­al­i­dade, etnia, ter­ritórios são alguns dos fatores fun­da­men­tais e temas que influ­en­cia­ram o proces­so de dis­cussão e mobi­liza­ção sobre a diver­si­dade, mes­mo que em diver­sas situ­ações e con­tex­tos ess­es fatores estão inter-rela­ciona­dos”, afir­ma Ribeiro (2015, p. 2). Em uma exaus­ti­va catarse a sociedade desco­bre-se pren­he de pre­con­ceitos: ao priv­i­le­giar padrões hegemôni­cos de beleza, estigma­ti­zamos os indi­ví­du­os que fugiam ao padrão esta­b­ele­ci­do, levan­do ao empo­brec­i­men­to dos nos­sos padrões cul­tur­ais de com­preen­são estéti­ca. Assim, volta­mos a priv­i­le­giar nas man­i­fes­tações cul­tur­ais padrões de beleza que antes não tin­ham espaço, dan­do vis­i­bil­i­dade a car­ac­terís­ti­cas que fogem ao que está­va­mos acos­tu­ma­dos a pen­sar como se fos­se um “padrão” da humanidade sobre­tu­do pela influên­cia dos “mass media” e do pre­con­ceito arraigado.

2.2 A diver­si­dade como dire­ito e fator de desenvolvimento 

Mas a diver­si­dade é não ape­nas um dire­ito das pes­soas, mas tam­bém um fator de desen­volvi­men­to da humanidade: a “defe­sa da diver­si­dade cul­tur­al é um imper­a­ti­vo éti­co, insep­a­ráv­el do respeito à dig­nidade humana. Ela impli­ca o com­pro­mis­so de respeitar os dire­itos humanos e as liber­dades fun­da­men­tais, em par­tic­u­lar os dire­itos das pes­soas que per­tencem a mino­rias e os dos povos autóc­tones. Ninguém pode invo­car a diver­si­dade cul­tur­al para vio­lar os dire­itos humanos garan­ti­dos pelo dire­ito inter­na­cional, nem para lim­i­tar seu alcance” (UNESCO, 2002).

E, na área da edu­cação e cul­tura reit­er­a­va: “toda pes­soa tem dire­ito a uma edu­cação e uma for­mação de qual­i­dade que respeite ple­na­mente sua iden­ti­dade cul­tur­al; toda pes­soa deve poder par­tic­i­par na vida cul­tur­al que escol­her e exercer suas próprias prat­i­cas cul­tur­ais, den­tro dos lim­ites que impõe o respeito aos dire­itos humanos e às liber­dades fun­da­men­tais (UNESCO, 2002).

3 Diver­si­dade na educação 

3.1 Na Pedagogia 

Na edu­cação, estas novas visões – que em alguns aspec­tos nem eram tão novas assim — rap­i­da­mente repercutiram.

Con­den­san­do ori­en­tações vigentes no Brasil para a adoção do “trata­men­to pedagógi­co da diver­si­dade”, Car­val­ho afirma:

“Con­sid­era-se que os edu­cadores não podem con­tin­uar a dire­cionar suas práti­cas para um padrão úni­co de aluno, de cur­rícu­lo e de estraté­gias pedagóg­i­cas. Con­trapon­do-se à per­spec­ti­va uni­forme e homogênea de aluno e de ensi­no (padroniza­ção dos pro­gra­mas, méto­dos e avali­ação), val­oriza-se o recon­hec­i­men­to das difer­enças étni­cas, cul­tur­ais, de capaci­dades indi­vid­u­ais, de níveis de instrução, mod­os de vida, mod­os de apren­der, den­tre out­ras. A diver­si­dade é con­ce­bi­da como um trun­fo para otimizar o proces­so educa­ti­vo e não como empecil­ho à própria apren­diza­gem.” (Car­val­ho, 2013, p. 91).

Como se vê̂, essa ped­a­gogia da diver­si­dade requer uma nova pos­tu­ra éti­ca na sala de aula. O padrão, antes bal­izador indis­cutív­el do ating­i­men­to dos obje­tivos esco­lares, ago­ra cede sua pri­mazia a uma pos­tu­ra mais humana e pro­fun­da­mente éti­ca: a de não ape­nas perce­ber, mas val­orizar as difer­enças, e tomar par­tido delas para a con­strução de ambi­entes mais ricos de con­vivên­cia e aprendizagem.

A mes­ma auto­ra (Car­val­ho, 2013) tra­ta das crit­i­cas exis­tentes a essa pos­tu­ra, as “ciladas da difer­ença”, já́ que no plano politi­co muitas vezes o recon­hec­i­men­to das difer­enças serve para diminuir a ênfase da neces­si­dade de igual­dade, reduzin­do assim o val­or das ban­deiras políti­cas tradi­cionais de igual­dade de dire­itos, em espe­cial de aces­so a ren­da e riqueza.

Em par­tic­u­lar nas esco­las “em nome do princí­pio da diver­si­dade, con­sid­er­a­do ago­ra como a própria condição da igual­dade, entram no jogo múlti­plas for­mas de desigual­dade, como se a defe­sa anti­ga do dire­ito uni­ver­sal à edu­cação estivesse ultra­pas­sa­da” (Car­val­ho, 2013, p. 97). A críti­ca às difer­enças soci­ais que lev­am os mais pobres a ser excluí­dos das esco­las se tor­na mais impac­tante quan­do pen­samos no avanço da edu­cação dig­i­tal, que exige tam­bém o aces­so a dis­pos­i­tivos com­puta­cionais, inter­net etc.

3.2 Na edu­cação digital 

Na edu­cação dig­i­tal os prob­le­mas trazi­dos pela abor­dagem da diver­si­dade são acen­tu­a­dos, pois além de toda a neces­si­dade de uma nova ped­a­gogia, é pre­ciso que: i) essas mudanças sejam refleti­das no apara­to tec­nológi­co com o qual os pro­fes­sores pre­cisam lidar, ii) o aces­so às tec­nolo­gias não acentue ain­da mais as desigual­dades e iii) os pro­fes­sores este­jam aptos a lidar com essas novas exigên­cias éti­cas. Como diz Car­doso (2001):

“Para além de com­petên­cias téc­ni­cas para lidar com as NTIC em ter­mos de as inserir no proces­so cur­ric­u­lar, espera-se que os pro­fes­sores desen­volvam per­spec­ti­vas ide­ológ­i­cas que lhes per­mi­tam a análise crit­i­ca e reflex­i­va dos prob­le­mas e questões soci­ais que direc­ta ou indi­re­ta­mente ali­men­tam aque­las tec­nolo­gias; ou seja, de um pro­fes­sor medi­ador, sis­tem­ati­zador, apoiante de escol­has, capaz de aber­tu­ra democráti­ca face a diver­sas per­spec­ti­vas ide­ológ­i­cas. É uma exigên­cia que vem da neces­si­dade de ter de lidar com a diver­si­dade. Diver­si­dade (e quan­ti­dade) de infor­mação, com muitas fontes e através de diver­sos meios; diver­si­dade de alunos e suas famílias definidas por saberes, ati­tudes e crenças muito diver­si­fi­ca­dos” (Car­doso, 2001, p. 1).

3.3 Na gestão educacional 

Autores que abor­dam a diver­si­dade sobre o pris­ma da gestão, cos­tu­mam enfa­ti­zar a importân­cia da com­preen­são, pelas orga­ni­za­ções, da neces­si­dade de uma nova pos­tu­ra empre­sar­i­al frente ao aumen­to do fenô­meno da diver­si­dade, nesse caso enten­di­do como a pre­sença na sociedade, e em espe­cial clientes, fornece­dores, acionistas etc. de pes­soas que se difer­en­ci­am e ado­tam novas pos­turas e exigên­cias quan­to às suas iden­ti­dades de gênero, étni­cas etc.

Para as empre­sas, “uma das van­ta­gens da gestão da diver­si­dade é que ela fun­ciona como uma estraté­gia para man­ter a com­pet­i­tivi­dade no con­tex­to da glob­al­iza­ção, no qual os mer­ca­dos são extrema­mente diver­sos”, afir­ma Car­val­ho (2013, p. 2). Por esta lin­ha, já́ se nota que a diver­si­dade é não ape­nas um imper­a­ti­vo éti­co, mas tam­bém uma exigên­cia da com­pet­i­tivi­dade, além de uma respos­ta às exigên­cias legais que os Esta­dos pas­saram a impor ao tornar a temáti­ca da diver­si­dade pri­or­i­dade social e reg­u­lar de for­ma explici­ta novos dire­itos e rechaçar a intolerância.

O aler­ta é reit­er­a­do pela auto­ra: “A atribuição de van­ta­gens com­pet­i­ti­vas à gestão da diver­si­dade tem sido comum na lit­er­atu­ra volta­da para a admin­is­tração empre­sar­i­al” Car­val­ho (2013, p. 2).

Como orga­ni­za­ções empre­sari­ais, as esco­las da rede pri­va­da assumem, por­tan­to, desafio sim­i­lar à esco­la públi­ca. E assim, devem desen­volver ações que con­tribuam para uma mel­ho­ria do ambi­ente em que se inserem, ações estas que doc­u­men­tos da políti­ca edu­ca­cional definem como resum­i­das na tabela abaixo, elab­o­ra­do pelo autor ten­do Car­val­ho (2013) como fonte:

Tabela 1- Ações que Esco­las devem ado­tar para a gestão da diversidade

Incentivar valores de respeito e de aceitação das diferenças inerentes a uma sociedade global e democrática
Formular um projeto educacional institucional que contemple a atenção à diversidade
Adequar o nível de formação dos docentes, em termos de necessidades educacionais especiais e de estratégias de atendimento à diversidade
Adotar um estilo de ensino aberto e flexível, baseado em metodologias ativas e variadas, que permitam personalizar os conteúdos da aprendizagem
Desenvolver relações de colaboração e intercambio com outras escolas da comunidade, inclusive com as de educação especial
Atribuir aos gestores da escola uma responsabilidade especial na promoção de atitudes positivas por parte de toda a comunidade educativa envolvida no processo educativo
Dirigir a escola com espírito de liderança e comprometimento com a aprendizagem e a participação de todos os alunos e alunas
Promover o reconhecimento das diferenças e a adequação às diferentes situações no processo de ensino-aprendizagem
Incentivar de atitudes de aceitação e de valorização da diversidade por parte da comunidade educacional
Desenvolver um currículo o mais amplo, equilibrado e diversificado possível, adequando‑o às necessidades individuais e socioculturais dos alunos
Promover o maior grau possível de interação e participação de todos os alunos e estabelecer critérios e procedimentos flexíveis de avaliação e promoção
Ter abertura e relação de colaboração com outros setores da comunidade [gestão democrática]

Elab­o­ra­do pelo autor, a par­tir de Car­val­ho (2013, p. 7).

 

Mas ain­da seguin­do os pas­sos da mes­ma auto­ra, essa visão da “diver­si­dade” não é isen­ta de críti­cas. A prin­ci­pal se apre­sen­ta da seguinte forma:

“O maior desafio que se impõe à gestão democráti­ca con­siste em não se deixar cair na armadil­ha da apolo­gia das difer­enças e se con­cen­trar na luta pela igual­dade entre todos os cidadãos, no esforço cole­ti­vo para a con­strução de uma sociedade real­mente democráti­ca, que busque não ape­nas a igual­dade de dire­itos, mas a igual­dade de condições de vida. Isso impli­ca ter em con­ta que os prob­le­mas tem raízes históri­co- soci­ais e que, para superá-lós, é pre­ciso super­ar as desigual­dades soci­ais (Car­val­ho, 2013, p. 98).

De uma for­ma bas­tante rig­orosa podemos enten­der tam­bém que essa abor­dagem da gestão da diver­si­dade “procu­ra deslo­car o trata­men­to das desigual­dades soci­ais do âmbito políti­co para a admin­is­tração de recur­sos humanos das empre­sas (Alves & Galeão‑Silva, 2004)”.

Citan­do Dupas: “as novas tec­nolo­gias na área do áto­mo, da infor­mação e da genéti­ca causaram um cresci­men­to bru­tal dos poderes do homem, num esta­do de “vazio éti­co” no qual as ref­er­en­cias tradi­cionais desa­pare­cem e os fun­da­men­tos ontológi­cos, metafísi­cos e reli­giosos da éti­ca se perder­am… No momen­to em que as ações do homem se rev­e­lam gravi­das de peri­gos e riscos diver­sos, esta­mos pre­cisa­mente mer­gul­ha­dos nesse niil­is­mo que, se de um lado orig­i­na a crise atu­al da éti­ca, ao mes­mo tem­po ges­ta os novos val­ores da pós-mod­ernidade. (Dupas, 2001)”

4 Con­sid­er­ações Finais 

Em nos­so breve per­cur­so pelo con­ceito e novos trata­men­tos do tema da diver­si­dade, podemos exam­i­nan­do com rig­or o assun­to enten­der que essa nova abor­dagem, como é tan­tas vezes fre­quente nas ciên­cias soci­ais, con­duz-nos a um dile­ma que pre­cisa ser enfrenta­do com a con­sciên­cia éti­ca dos pesquisadores, pro­fes­sores e demais envolvi­dos com o tema.

Por um lado, enten­der a natureza dos con­fli­tos decor­rentes do pre­con­ceito social com as difer­enças étni­co-raci­ais, de ori­en­tação sex­u­al, da pre­sença de defi­ciên­cias físi­cas ou int­elec­tu­ais nas pes­soas, na cor da pele ou até mes­mo em per­fil de beleza cor­po­ral é de fato um imper­a­ti­vo éti­co que as pes­soas devem enfrentar, e de cer­ta for­ma veem fazen­do fazen­do há muito tem­po como con­se­quên­cia de uma pos­tu­ra filosó­fi­ca que priv­i­le­gia o respeito entre as pessoas.

Voltar a dis­cu­tir os val­ores morais sob uma éti­ca ori­en­ta­da à igual­dade é fun­da­men­tal, e um val­or que podemos cred­i­tar à evolução civ­i­liza­tória da humanidade.

Respeitar a diver­si­dade e retomar, sob as fac­etas que nos difer­en­ci­am, uma éti­ca da igual­dade e do respeito humano, é um imper­a­ti­vo éti­co do qual a mod­ernidade recente pode se orgulhar.

Levar à edu­cação ess­es val­ores é um corolário da sua importân­cia, quer como matéria de ensi­no (ain­da que sob o con­teú­do de diver­sas dis­ci­plinas), quer como práti­ca da vivên­cia nas esco­las, é fun­da­men­tal. O ambi­ente tec­nológi­co do ensi­no à dis­tân­cia não nos isen­ta dessa pos­tu­ra, ain­da que even­tual­mente o desafio téc­ni­co pos­sa levar a abor­da­gens difer­entes decor­rentes das dis­tin­tas fun­cional­i­dades pre­sentes no ambi­ente digital.

Con­tu­do, há riscos que se devem avaliar e enfrentar decisivamente.

O primeiro é tratar a diver­si­dade como um obje­to da gestão edu­ca­cional, em espe­cial sob uma óti­ca empre­sar­i­al. Isso sig­nifi­ca sub­or­di­nar princí­pios éti­cos a uma log­i­ca util­i­tarista, cuja ênfase nun­ca pode se sobre­por à abor­dagem sobre os val­ores humanos de respeito e igual­dade entre as pessoas.

Um segun­do, é a sub­val­oriza­ção das questões da igual­dade. As difer­enças étni­cas, das mino­rias, da ori­en­tação sex­u­al, não abolem as difer­enças de ren­da e riqueza, e muitas vezes o acir­ra­men­to dessas difer­enças acon­te­ce­r­am jus­ta­mente em proces­sos históri­cos que tiver­am como origem o acir­ra­men­to da explo­ração capitalista.

Em out­ros ter­mos, a pri­mazia do trata­men­to e con­ceito estru­tu­rante da diver­si­dade é a igualdade.

Par­tic­u­lar­mente no âmbito da dis­cussão sobre a gestão da diver­si­dade esta crit­i­ca se acen­tua. As exigên­cias éti­cas do debate impõem que os val­ores da igual­dade e da diver­si­dade não se colo­quem de for­ma instru­men­tal sub­or­di­nadas às estraté­gias da con­cor­rên­cia empre­sar­i­al, e nem mes­mo da orga­ni­za­ção escolar.

Enquan­to orga­ni­za­ções, esco­las estão sujeitas aos imper­a­tivos éti­cos da igual­dade e da diver­si­dade, inclu­sive na gestão. Enquan­to ori­en­ta­dores, edu­cadores devem ensi­nar aos seus alunos os pre­ceitos de respeito à igual­dade e ao trata­men­to de respeito à diversidade.

Mas há lim­ites que se impõem, e devem ser respeita­dos sob o risco de romper o fun­da­men­to éti­co que tor­na esse tema tão rel­e­vante, é a essa reflexão que procu­ramos con­duzir este artigo.

4 Refer­ên­cias Bibliográficas 

Alves, M. A., & Galeão‑Silva, L. G. (2004). A críti­ca da gestão da diver­si­dade nas orga­ni­za­ções. Revista de Admin­is­tração de Empre­sas, 44, 20–29. https://doi.org/10.1590/S0034-75902004000300003

Car­doso, C. (2001). Os desafios da diver­si­dade e das novas tec­nolo­gias. https://www.apagina.pt/?aba=7&mid=2&cat=107&doc=8565

Car­val­ho, E. J. G. de. (2013). Diver­si­dade cul­tur­al e gestão esco­lar: Alguns pon­tos para reflexão. Teo­ria E Práti­ca Da Edu­cação, 15, 85–100. https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/20181/10527

Dupas, G. (2001). Éti­ca e poder na sociedade da infor­mação: Reven­do o mito do pro­gres­so. Revista Brasileira de Edu­cação, 18, 117–122. https://doi.org/10.1590/S1413- 24782001000300011

Gus­mão, J. L. O., & Lima, W. M. (2018). Ped­a­gogia da “pre­sença”: Uma aprox­i­mação da “analíti­ca exis­ten­cial” de Mar­tin Hei­deg­ger e suas con­se­quên­cias nos proces­sos educa­tivos. Revista Dig­i­tal de Ensi­no de Filosofia — REFi­lo, 3(2). https://doi.org/10.5902/2448065730190

Iavel­berg, C. (2013). Para con­viv­er com a diver­si­dade. Gestão Esco­lar. https://gestaoescolar.org.br/conteudo/145/para-conviver-com-a-diversidade

Monte, L. M. I., Nasci­men­to, E. F., Lan­do, G. A., & Queiroz, A. P. F. (2020). Diver­si­dades e sub­je­tivi­dades iden­titárias: Gênero refleti­do nos cor­pos em movi­men­to. Akrópolis — Revista de Ciên­cias Humanas da UNIPAR, 28(2). https://doi.org/10.25110/akropolis.v28i2.8117

Ribeiro, P. M. (2015). Cul­tura, tra­bal­ho e edu­cação. Revista Fac­mais. http://revistacientifica.facmais.com.br/wp- content/uploads/2015/08/artigos/cultura_trabalho.pdf

Strieder, R., & Tedesco, A. L. (2014). A for­mação do ethos con­tem­porâ­neo: Desafios à edu­cação. CONJECTURA: filosofia e edu­cação, 19(3), 96–116. http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/view/2471

UNESCO. (2002). Uni­ver­sal Dec­la­ra­tion on Cul­tur­al Diver­si­ty. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000127160.

 

[1] Econ­o­mista. Espe­cial­ista em Ciên­cias Soci­ais (UFS, Esta­do e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreende­doris­mo (UFS, Gestão Orga­ni­za­cional). Mes­tran­do em Tec­nolo­gias Emer­gentes em Edu­cação pela Must Uni­ver­si­ty. E‑mail josedeoliveira.junior@gmail.com.

Com­par­til­he nas suas redes:

Oliveira Jr.

Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University, 2022).

https://ojr.solutions

Deixe um comentário