Imagem de rostos de pessoas com diferentes traços, gerados por inteligência artificial

Toda existên­cia tem seu idioma. 

A com­preen­são da sur­dez e do inter­es­sante fenô­meno lin­guís­ti­co que ela prop­i­cia – a lín­gua ges­tu­al – tem sido um desafio para a sociedade e para os edu­cadores. Ape­sar dis­so, o recon­hec­i­men­to dos sur­dos enquan­to pes­soas capazes de se tornar pro­tag­o­nistas da sua própria história e afir­mar-se como sujeitos per­ante as pes­soas ditas “nor­mais”, os ouvintes, é uma real­i­dade con­tem­porânea e con­sti­tui um avanço social impor­tante. Mas a história dos sur­dos será lem­bra­da sem­pre como um capí­tu­lo trági­co da história da humanidade.Diz Rodrigues, que “a história dos sur­dos começou assim: triste, muda e dolorosa… O sur­do era vis­to como um ser irra­cional, prim­i­ti­vo, não educáv­el, não cidadão; pes­soas cas­ti­gadas e enfeitiçadas; como doentes pri­va­dos de alfa­bet­i­za­ção e instrução, força­dos a faz­er os tra­bal­hos mais desprezíveis; vivi­am soz­in­hos e aban­don­a­dos na mis­éria. Eram con­sid­er­a­dos pela lei e pela sociedade como imbe­cis.” Nesse aspec­to, a piedade era o úni­co bál­samo a mino­rar a tragé­dia social que fazia do dra­ma indi­vid­ual do sur­do demon­stração dos extremos a que a intol­erân­cia e a ignorân­cia dos home­ns podi­am levar.Mas, na min­ha opinião, o pro­gres­so na com­preen­são e respeito aos dire­itos humanos dos sur­dos ain­da não se fez acom­pan­har de avanço sim­i­lar na com­preen­são da lín­gua ges­tu­al e da sua importân­cia para a vida e a edu­cação dos sur­dos. Este tex­to ten­ta destacar a importân­cia do recon­hec­i­men­to da lin­guagem de sinais como instru­men­to para com­preen­der os sur­dos e até, ain­da mais do que isso, com­preen­der mel­hor uma cria­ti­va fac­eta da inteligên­cia humana que per­mi­tiu inven­tar uma lín­gua ali onde a voz humana não podia alcançar a con­sciên­cia, pela reuti­liza­ção do gesto e do espaço.Ali onde a músi­ca ou a fala não sig­nifi­cavam nada, os sur­dos rein­ven­taram a lín­gua usan­do as mãos e o espaço, em um balé de gestos, uma dança talvez sem músi­ca, mas nem por isso menos bela ou inven­ti­va, igual­mente rev­e­lado­ra da capaci­dade cria­ti­va e da natureza humana.Dis­cu­ti­da a importân­cia da lín­gua ges­tu­al, a LIBRAS, pre­tendo mostrar adi­ante porque o ensi­no dos sur­dos enfrenta no Brasil difi­cul­dades por con­ta de uma incom­preen­di­da políti­ca edu­ca­cional, que se supõe inclu­si­va, mas que tem a dramáti­ca con­se­quên­cia de invi­a­bi­lizar o ensi­no da lín­gua sur­da nas esco­las.

IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA GESTUAL

A primeira coisa que muitas pes­soas, inclu­sive edu­cadores e até profis­sion­ais da saúde, têm difi­cul­dade em com­preen­der é que o uso dos gestos pelos sur­dos con­sti­tui uma lín­gua. Corolário dessa afir­mação é que podemos per­feita­mente falar de uma cul­tura sur­da.Infe­liz­mente, o sen­so comum não assim­i­la bem essa ideia. Quan­do veem sur­dos con­ver­san­do em lin­guagem ges­tu­al, a maio­r­ia das pes­soas pen­sam que o movi­men­to das mãos ape­nas sub­sti­tui as palavras e sig­nos da lín­gua fal­a­da usu­al. E, de fato, quan­do ten­tam con­ver­sar com um sur­do através de um intér­prete parece que os sinais feitos com a mão cor­re­spon­dem quase auto­mati­ca­mente à lín­gua fal­a­da, ao por­tuguês colo­quial. No entan­to, esse automa­tismo decorre ape­nas da neces­si­dade da tradução entre uma lín­gua e out­ra, da mes­ma for­ma que quan­do via­jamos a um lugar de lín­gua difer­ente ten­ta­mos nos faz­er com­preen­der usan­do os sinais mais comuns, alguns quase uni­ver­sais, como apon­tar ou con­tar até cin­co ou dez.Imag­ine um tur­ista alfa­bet­i­za­do que fala por­tuguês em viagem a um país onde se fala o inglês: a aju­da de um intér­prete tor­na fácil e ime­di­a­ta a comu­ni­cação. Mas é evi­dente que a com­preen­são pro­fun­da do idioma estrangeiro vai muito além do que faz o intér­prete traduzin­do diál­o­gos con­ven­cionais. Mes­mo para um expert em idiomas, existe sem­pre uma lín­gua natal, um idioma com o qual falam­os com nós mes­mos,A aque­le que é a base da nos­sa compreensão do mun­do.Por que esta é a função mais pro­fun­da da língua: a de nos per­mi­tir com­preen­der a nós próprios frente aos out­ros, a cul­tura e a civilização . Sem a apren­diza­gem de algu­ma língua, não há apren­diza­gem comum, não há pos­si­bil­i­dade de usufru­to do avanço civilizatório que o con­hec­i­men­to per­mi­tiu à humanidade. A impos­si­bil­i­dade de apren­der uma língua inca­paci­ta a pes­soa para a vida social mais ele­men­tar. Sem língua, não há nada sim­i­lar ao que chamamos de educação. Os espe­cial­is­tas em neurolinguística demon­stram que a aquisição da lin­guagem é um proces­so cog­ni­ti­vo que se ini­cia muito cedo na vida de uma criança, como sabe­mos até por experiência própria. Com isso, quero demon­strar de maneira sim­ples que sur­dos que não são expos­tos muito pre­co­ce­mente na vida (até cin­co anos de idade no máximo, o ide­al sendo antes até do segun­do ano de vida) a uma experiência lingüística, ten­dem a se tornar inca­pac­i­ta­dos ou terem suas pos­si­bil­i­dades de apren­diza­gem grande­mente reduzi­das, sim­ples­mente porque não se for­mam no cérebro as aptidões lingüísticas decor­rentes da experiência da apreensão da lin­guagem. Do pon­to de vista da formação do con­hec­i­men­to humano, a apren­diza­gem da língua é insubstituível e impostergável. Para pais de um bebê sur­do, não há experiência mais benéca do que a convivência com out­ras crianças sur­das. Por pre­con­ceito, muitos pais temem isso: acham que o convívio com sur­dos ou o uso dos gestos é um con­vite à “anor­mal­i­dade”. Eu já ouvi até de fonoaudiólogos o con­sel­ho para evi­tar que crianças decientes audi­ti­vas sur­das con­vi­vam com out­ras semel­hantes, porque a ten­ta­ti­va de apren­der sinais irá deses­tim­u­lá- los a apren­der a falar. Isso é um absur­do, ali­men­ta­do pelo pre­con­ceito: é que ver sur­dos usan­do gestos evi­den­cia, tor­na ime­di­ata­mente aparente, a deciência. Por isso os pais retar­dam e temem o convívio dos seus lhos com out­ros sur­dos: pref­er­em que eles sejam “nor­mais” e não usem sinais. Por isso é tão impor­tante que as famílias saibam que não há evidência cientíca que indique que sur­dos que usam sinais quem de algu­ma for­ma tol­hi­dos para apren­der a falar ou reduzam de algu­ma for­ma a pou­ca capaci­dade audi­ti­va que pos­suam. Por out­ro lado, o sen­so comum leva as pes­soas a reduzir a importância da lin­guagem ges­tu­al para o sur­do. É comum ouvir­mos o rela­to de experiência de sur­dos que ”apren­der­am” a falar, que enten­dem os ouvintes através da leitu­ra labi­al, que se rela­cionam com out­ras pes­soas sem apren­der a língua de sinais, etc. Isso tudo é ver­dade, mas para algu­mas pes­soas com deciência audi­ti­va, não para todos os sur­dos. Isso acon­tece porque exis­tem difer­entes per­das da capaci­dade audi­ti­va, graus difer­entes de sur­dez e condições espe­ci­ais de apren­diza­gem dos indivíduos. Exis­tem per­das menos graves, nas quais o indivíduo sub­meti­do ao estímulo edu­ca­cional ade­qua­do con­segue super­ar a bar­reira do idioma. E exis­tem diferenças indi­vid­u­ais, que fazem com que um sur­do pos­sa super­ar com maior ou menor dicul­dade a bar­reira da compreensão lingüística, apren­den­do de maneira difer­ente de out­ros. Para os real­mente sur­dos, porém, a apren­diza­gem pre­coce da língua ges­tu­al é uma neces­si­dade arrebata­do­ra. Sur­dos pen­sam com gestos, son­ham fazen­do gestos, como os pais ouvintes logo percebem, sur­pre­sos. E o poten­cial de apren­diza­gem das crianças sur­das cresce assus­ta­do­ra­mente ao obter con­ta­to com out­ros sur­dos ou com pes­soas que dominem a lin­guagem ges­tu­al. Super­a­da a fase ini­cial de apreensão do idioma próprio, o idioma que faz com que o sur­do alcance sua iden­ti­dade como indivíduo, a compreensão de si sujeito frente ao mun­do, o proces­so pos­te­ri­or de desen­volvi­men­to é extra­or­di­nar­i­a­mente ampli­a­do.A LIBRAS E OS SURDOS BRASILEIROSNo caso do Brasil, a língua de gestos usa­da pre­dom­i­nan­te­mente por sur­dos é a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. Mas não é única língua ges­tu­al brasileira: há out­ras, usadas entre os índios da Amazônia. Mas pode até ser sur­pre­sa para algu­mas pes­soas saber que a língua ges­tu­al não é uni­ver­sal. Nos EUA, por exem­p­lo, padroni­zou-se o uso da ASL (Amer­i­can Sign Lan­guage), bas­tante difer­ente da nos­sa LIBRAS, que no Brasil foi her­da­da da língua de sinais france­sa. Sur­dos, porém, apren­dem muito rap­i­da­mente out­ras línguas ges­tu­ais, de for­ma que um sur­do brasileiro usan­do LIBRAS e um sur­do amer­i­cano usan­do ASL conseguirão enten­der-se mais rap­i­da­mente que um brasileiro e um amer­i­cano falan­do português e inglês ape­nas. Sem dúvida o uso da LIBRAS vem avançando no Brasil, e as pes­soas aos poucos vão se acos­tu­man­do aos sinais, inclu­sive reduzin­do o pre­con­ceito de con­viv­er com sur­dos. É fácil ver hoje gru­pos de jovens sur­dos con­ver­san­do em Libras. O incen­ti­vo da legislação para o emprego, também facili­ta a divulgação social da língua ges­tu­al, e cada vez mais pes­soas querem apren­der a usá-la. Mas, resolvi­do ou pelo menos mel­ho­ra­do o mais grave prob­le­ma dos sur­dos, que é negação do aces­so à sua língua ges­tu­al e prin­ci­pal método de comunicação, tão vital que con­sti­tui um idioma próprio e pecu­liar, quais as dicul­dades seguintes para o proces­so edu­ca­cional e de inclusão social? A primeira é a neces­si­dade de divulgação da cul­tura sur­da e da compreensão, pelos ouvintes, do seu sig­ni­ca­do. De maneira ger­al, essa é uma questão da aces­si­bil­i­dade. Da mes­ma for­ma que a sociedade entende hoje que é jus­to e ele­gante per­mi­tir que idosos enfrentem menos dicul­dades nas las ou nos esta­ciona­men­tos, que com­puta­dores e instru­men­tos eletrônicos sejam mais ade­qua­dos para a leitu­ra por decientes visuais, ou que o piso das praças pos­sua ele­men­tos tácteis para ser recon­heci­dos por cegos, é impor­tante apren­der como con­viv­er com sur­dos, que também pos­suem suas especi­ci­dades. É impor­tante saber que sur­dos mor­rem muito de aci­dentes de trânsito, por exem­p­lo, porque motoris­tas impru­dentes sem­pre supõem que as pes­soas à sua vol­ta podem ouvir o som da buz­i­na dos car­ros e se afas­tar do cam­in­ho – o que não fun­ciona com tan­ta certeza assim com sur­dos. De igual for­ma, o socor­ro médico de urgência presta­do a sur­dos deve evi­tar mobi­lizar suas mãos, caso contrário eles não terão como prestar informações a quem for atendê-los. De maneira ger­al, há um avanço sig­nica­ti­vo no Brasil nas políticas de aces­si­bil­i­dade, vis­tas como um req­ui­si­to de cidada­nia. Isso é sem dúvida um grande pro­gres­so. Mas o maior peri­go que assus­ta hoje as pes­soas que bus­cam esco­las baseadas em LIBRAS é a compreensão míope de alguns edu­cadores que con­fun­dem a inclusão – como política de ensi­no público – com a privação da pos­si­bil­i­dade de ensi­no do idioma ges­tu­al. SURDOS PRECISAM APRENDER LIBRAS De fato, des­de a chama­da Declaração de Sala­man­ca a idéia pre­dom­i­nante dos edu­cadores é que o ensi­no deva ser uma prática social capaz de super­ar as diferenças indi­vid­u­ais dos alunos no proces­so edu­ca­cional, de for­ma igualitária e solidária. Uma esco­la real­mente acessível, por­tan­to, não dis­tingue “deciências”, e será capaz de suprir quais­quer restrições de apren­diza­gem que seja, decor­rentes ou não de incapacitação física. 
03/04/2021 A Sur­dez dos Ouvintes – OJr. Solutions 
O prob­le­ma é que dess­es princípios genéricos, recep­ciona­dos inclu­sive pela legislação brasileira de inclusão, decor­rem às vezes um fal­so entendi­men­to das vir­tudes e limitações do ensi­no para sur­dos. É que algu­mas pes­soas vêem nas esco­las de sur­dos a prática de uma política de segregação, opos­ta à inclusão. Nada mais fal­so.A diferença é que o ensi­no de um idioma não pode ser feito sem a convivência de pes­soas que pra­tiquem o mes­mo idioma. Ou seja, se os sur­dos não tiverem convivência comum, entre sur­dos, eles não apren­dem a língua de sinais. Isso não pode ser feito na esco­la com o uso de intérpretes porque ess­es intérpretes, como o nome já deixa claro, real­izam ape­nas o proces­so de transformação de uma língua para out­ra. Ten­to explicar: se uma criança que apren­deu o português entrar em uma esco­la amer­i­cana, poderá com o uso do intérprete apren­der a língua ingle­sa e tornar-se apta nos dois idiomas. Se isso acon­tece muito pre­co­ce­mente com uma criança ouvinte, será provável que ela esqueça o português e refaça todo o seu proces­so de con­hec­i­men­to na nova língua.Mas o que acon­tece com as pes­soas sur­das, em que a restrição física impede a apren­diza­gem nat­ur­al do idioma fal­a­do, seja o português ou o inglês? Respos­ta: a com­ple­ta incapacitação para a apren­diza­gem, em qual­quer das duas línguas. Por isso, é fun­da­men­tal que o esta­do brasileiro, como acon­tece hoje na maio­r­ia do mun­do civ­i­liza­do, crie condições de existência de esco­las de línguas ges­tu­ais. Elas são fun­da­men­tais para: em primeiro lugar, per­mi­tir às crianças sur­das que super­em a bar­reira ina­ta da inca­paci­dade de apren­diza­gem de um idioma, qual­quer que seja ele; em segun­do lugar, per­mi­tir que ouvintes pos­sam dom­i­nar a língua de gestos, de maneira que os sur­dos encon­trem intérpretes capazes de auxiliá-los na compreensão do português e assim avançar no proces­so de apren­diza­gem.No caso dos sur­dos, só podemos falar em inclusão social depois de ven­ci­da a bar­reira lingüística. Para isso é pre­ciso que as crianças sur­das ten­ham con­ta­to pre­coce com a Libras, e é pre­ciso que o próprio idioma sur­do, a Libras, seja cul­ti­va­do e enrique­ci­do pela experiência de vida e apren­diza­gem dos próprios sur­dos. É um proces­so de armação cul­tur­al, tal qual todos recon­hece­mos quan­do pen­samos nos idiomas orais (have­ria Brasil, por exem­p­lo, se a língua por­tugue­sa não tivesse sido fator de unicação e armação cul­tur­al per­ante o resto do mun­do?)O respeito à cul­tura sur­da, cuja prin­ci­pal especi­ci­dade é a língua ges­tu­al, é uma questão que vai além do proces­so edu­ca­cional e se situa na ver­tente dos dire­itos à cidada­nia e respeito humanos. Para valorizá-la é pre­ciso que a educação de crianças sur­das comece pre­co­ce­mente, através da língua de sinais. Já os decientes audi­tivos (ou seja, pes­soas com limitações audi­ti­vas, mas capazes de ouvir medi­ante o uso de apar­el­hos audi­tivos e até de implante coclear) devem rece­ber assistência capaz de ajudá-los a, quan­do possível, dom­i­nar o entendi­men­to da língua fal­a­da. Nun­ca é demais relem­brar que é tolice a idéia de que apren­der sinais reduz a capaci­dade do sur­do enten­der o mun­do ouvinte: esta teo­ria do sen­so comum não tem suporte cientíco e a real­i­dade é exata­mente o inver­so, ou seja, a língua de sinais facili­ta a compreensão e uso do idioma fal­a­do.Sur­dos mere­cem apoio no desen­volvi­men­to da Libras. Como língua, a Libras pos­sui várias restrições, sendo a mais dramática dela o fato de não pos­suir representação escri­ta (há estu­dos visan­do à criação de um mod­e­lo para “escr­ev­er” sinais, que ain­da é pouco difun­di­do). Se os sur­dos carem lim­i­ta­dos à Libras, 
03/04/2021 A Sur­dez dos Ouvintes – OJr. Solutions 
por­tan­to, terão um forte empecil­ho ao desen­volvi­men­to cul­tur­al e avanço na esco­lar­i­dade. No entan­to, o desen­volvi­men­to da lin­guagem se traduz exata­mente na ampliação do vocabulário, que dá precisão e uni­formi­dade à língua (intérpretes da Libras sabem que os sinais vari­am às vezes de um Esta­do para out­ro, e que os sur­dos ado­ram cri­ar gírias e diale­tos próprios den­tro da língua, que as vezes iden­ti­cam e reforçam gue­tos cul­tur­ais discriminatórios). Da mes­ma for­ma que o português ou qual­quer out­ra língua fal­a­da, o idioma é por si só sujeito de um proces­so de desen­volvi­men­to cul­tur­al.É pre­ciso pro­por­cionar meios aos sur­dos para que esse desen­volvi­men­to aconteça. A existência de uma cul­tura sur­da per­mite a eles armarem-se enquan­to sujeitos capazes, per­mite que se reconheçam per­ante o mun­do, com­preen­dam a si próprios e sejam com­preen­di­dos pelos out­ros. A nós, per­mite o respeito à diferença cul­tur­al, e o dire­ito à educação que ajude a super­ar as limitações da inca­paci­dade física.BIBLIOGRAFIA Rodrigues, Z. (2008, 01 10). Web Arti­gos. Retrieved 05 24, 2009, from webartigos.com: http://www.webartigos.com/articles/3639/1/historico-da-educacao-dos-surdos/pagina1.html Sacks, O. (2002 (1989)). Ven­do Vozes – Uma viagem a mun­do dos sur­dos. São Paulo: Edi­to­ra Schwar­cz.Este arti­go foi pub­li­ca­do orig­i­nal­mente na edição impres­sa do jor­nal CINFORM, pub­li­ca­do em Sergipe. 

A Libras e os sur­dos brasileiros. No caso do Brasil, a lín­gua de gestos usa­da pre­dom­i­nan­te­mente por sur­dos é a Libras — Lín­gua Brasileira de Sinais. Mas não é úni­ca lín­gua ges­tu­al brasileira: há out­ras, usadas entre os índios da Amazó­nia. Pode até ser sur­pre­sa para algu­mas pes­soas saber que a lín­gua ges­tu­al não é uni­ver­sal. Nos EUA, por exem­p­lo, padroni­zou-se o uso da ASL — Amer­i­can Sign Language‑, bas­tante difer­ente da nos­sa Libras, que no Brasil foi her­da­da da lín­gua de sinais france­sa. Sur­dos, porém, apren­dem muito rap­i­da­mente out­ras lín­guas ges­tu­ais, de for­ma que um sur­do brasileiro usan­do Libras e um sur­do amer­i­cano usan­do ASL con­seguirão enten­der-se mais rap­i­da­mente que um brasileiro e um amer­i­cano falan­do por­tuguês e inglês apenas.

Sem dúvi­da o uso da Libras vem avançan­do no Brasil, e as pes­soas aos poucos vão se acos­tu­man­do aos sinais, inclu­sive reduzin­do o pre­con­ceito de con­viv­er com sur­dos. É fácil ver hoje gru­pos de jovens sur­dos con­ver­san­do em Libras. O incen­ti­vo da leg­is­lação para o emprego, tam­bém facili­ta a divul­gação social da lín­gua ges­tu­al, e cada vez mais pes­soas querem apren­der a usá-la.

Mas, resolvi­do ou pelo menos mel­ho­ra­do o mais grave prob­le­ma dos sur­dos, que é negação do aces­so à sua lín­gua ges­tu­al e prin­ci­pal méto­do de comu­ni­cação, tão vital que con­sti­tui um idioma próprio e pecu­liar, quais as difi­cul­dades seguintes para o proces­so edu­ca­cional e de inclusão social?

A primeira é a neces­si­dade de divul­gação da cul­tura sur­da e da com­preen­são, pelos ouvintes, do seu sig­nifi­ca­do. De maneira ger­al, essa é uma questão da aces­si­bil­i­dade. Da mes­ma for­ma que a sociedade entende hoje que é jus­to e ele­gante per­mi­tir que idosos enfrentem menos difi­cul­dades nas filas ou nos esta-

 

 

ouvintes II
a lín­gua de sinais. Isso não pode ser feito na esco­la com o uso de intér­pretes, porque ess­es intér­pretes, como o nome já deixa claro, rEal­izam ape­nas o pro- ces­so de trans­for­mação de urna lín­gua para outra.

Ten­to explicar. se uma cri­ança que apren­deu o por­tuguês entrar em uma esco­la amer­i­cana, poderá com o uso do intér­prete apren­der a lín­gua ingle­sa e tornar-se apta nos dois idiomas. Se isso acon­tece muito piv­co­ce­mente com uma cri­ança ouvinte, será prováv­el que ela esqueça o por­tuguês e refaça todo o seu proces­so de con­hec­i­men­to na nova lín­gua. Mas o que acon­tece com as pes­soas sur­das, em que a restrição fisi­ca impede a apren­diza­gem nat­ur­al do idioma fal­a­do, seja o por­tuguês ou o inglês? Respos­ta: a com­ple­ta inca­pac­i­tação para a apren­diza­gem, em qual­quer das duas línguas.

Por isso, é fun­da­men­tal que o esta­do brasileiro, como acon­tece hoje na maio­r­ia do mun­do civ­i­liza- do, crie condições de existên­cia de esco­las de lín- guas ges­tu­ais. Elas são fun­da­men­tais para: em primeiro lugar, per­mi­tir às cri­anças sur­das que super­em a bar­reira ina­ta da inca­paci­dade de apren­diza­gem de um idioma, qual­quer que seja ele; em segun­do lugar, per­mi­tir que ouvintes pos­sam domi- nar a lín­gua de gestos, de maneira que os sur­dos encon­trem intér­pretes capazes de aux­il­iá-los na com­preen­são do por­tuguês e assim avançar no pro ces­so de aprendizagem.

ciona­men­tos, que com­puta­dores e instru­men­tos ele-                                                                                                                                 O respeito à cul­tura sur­da, cuia prin­ci­pal espe-

OPINIÃO PESSOAL


 
 

No caso dos stux­los, só podemos falar em inclusão social depois de ven­ci­da a lin­guís­ti­ca. Para isso é pre­ciso que as cri­anças sur­das ten­ham con­ta­to pre­coce com a Libras, e é pre­ciso que o próprio idioma sur­do, a Libras, seja cul­ti­va­do e enrique­ci­do pela exper­iên­cia de vida e apren­diza­gem dos próprios sur­dos. É um proces­so de afir­mação cul­tur­al, tal qual todos recon­hece­mos quan­do pen­samos nos idiomas orais (have­ria Brasil, por exem­p­lo, se a lín­gua por­tugue­sa não tivesse sido fator de unifi­cacão e afir­mação cul­tur­al per­ante o resto do mundo?)

trôni­cos sejam mais ade­qua­dos para a leitu­ra por defi­cientes visuais, ou que o piso das praças pos­sua ele­men­tos tácteis para ser recon­heci­dos por cegos, é impor­tante apren­der como con­viv­er com sur­dos, que tam­bém pos­suem suas especificidades.

É impor­tante saber que sur­dos mor­rem muito de aci­dentes de trân­si­to, por exem­p­lo, porque motoris tas impru­dentes sem­pre supõem que as pes­soas à sua vol­ta podem ouvir o som da buz­i­na dos car­ros e se afas­tar do cam­in­ho — o que não fun­ciona com tan­ta certeza assim com sur­dos. De igual for­ma, o socor­ro médi­co de urgên­cia presta­do a sur­dos deve evi­tar imo­bi­lizar suas mãos, caso con­trário eles não terão como prestar infor­mações a quem for atendê-los.

De maneira ger­al, há um avanço sig­ni­fica­ti­vo no Brasil nas políti­cas de aces­si­bil­i­dade, vis­tas como um req­ui­si­to de cidada­nia. Isso é sem dúvi­da um grande pro­gres­so. Mas o maior peri­go que assus­ta hoje as pes­soas que bus­cam esco­las baseadas em Libras é a com­preen­são míope de alguns edu­cadores que con­fun­dem a inclusão — como polit­i­ca de ensi­no públi­co — com a pri­vação da pos­si­bil­i­dade de ensi­no do idioma gestual.

1 SURDOS PRECISAM APRENDER LIBRAS
De fato, des­de a chama­da Declar­ação de Sala­man­ca a ideia pre­dom­i­nante dos edu­cadores é que o ensi­no deva ser uma práti­ca social capaz de super­ar as difer­enças indi­vid­u­ais dos alunos no proces­so edu­ca­cional, de for­ma igual­itária e solidária. Uma esco­la real­mente acessív­el, por­tan­to, não dis­tingue ‘defi­ciên­cias’ , e será capaz de suprir quais­quer restrições de apren­diza­gem que seja, decor­rentes ou não de inca­pac­i­tação fisi­ca. O prob­le­ma é que dess­es princí­pios genéri­cos, recep­ciona­dos inclu­sive pela leg­is­lação brasileira de inclusão, decor­rem às vezes um fal­so cifi­ci­dade é a lín­gua ges­tu­al, é uma questão que vai além do proces­so edu­ca­cional e se situa na ver­tente dos dire­itos à cidada­nia e respeito humanos. Para val­orizá-la é pre­ciso que a edu­cação de cri­anças sur­das comece pre­co­ce­mente, através da lín­gua de sinais. Já os defi­cientes audi­tivos (ou seja, pes­soas com lim­i­tações audi­ti­vas, mas capazes de ouvir medi­ante o uso de apar­el­hos audi­tivos e até de implante co clear) devem rece­ber assistên­cia capaz de ajudá-los a, quan­do pos­sív­el, dom­i­nar o entendi­men­to da lín­gua fal­a­da. Nun­ca é demais relem­brar que é tolice a ideia de que apren­der sinais reduz a capaci­dade do sur­do enten­der o mun­do ouvinte: esta teo­ria do sen- so comum não tem suporte cien­tí­fi­co e a real­i­dade é exata­mente o inver­so, ou seja, a lín­gua de sinais facili­ta a e uso do idioma falado.

Sur­dos mere­cem apoio no desen­volvi­men­to da Libras. Como lín­gua, a Libras pos­sui várias restri- çóes, sendo a mais dramáti­ca delas o fato de não pos­suir rep­re­sen­tação escri­ta (há estu­dos visan­do à cri­ação de um mod­e­lo para ‘escr­ev­er’ sinais, que ain­da é pouco difun­di­do). Se os sur­dos ficarem lim­i­ta­dos à Libras, por­tan­to, terão um forte empeci- lho ao desen­volvi­men­to cul­tur­al e avanço na esco­lar­i­dade. No entan­to, o desen­volvi­men­to da lin­guagem se traduz exata­mente na ampli­ação do vocab­ulário, que dá pre­cisão e uni­formi­dade à lín­gua (intér­pretes da Libras sabem que os sinais vari­am às vezes de um Esta­do para out­ro, e que os sur­dos ado­ram cri­ar gírias e diale­tos próprios den­tro da lín­gua, que às vezes iden­ti­fi­cam e reforçam gue­tos cul­tur­ais dis­crim­i­natórios). Da mes­ma for­ma que o por­tuguês ou qual­quer out­ra lín­gua fal­a­da, o idi- oma é por si só sujeito de um proces­so de desen­volvi­men­to cultural.

É pre­ciso pro­por­cionar meios aos sur­dos para si], a lín­gua de gestos usa­da pre­dom­i­nan­te­mente por sur­dos é a Libras — Lín­gua Brasileira de Sinais. Mas não é úni­ca lín­gua ges­tu­al brasileira: há out­ras, usadas entre os índios da Amazó­nia. Pode até ser sur­pre­sa para algu­mas pes­soas saber que a lín­gua ges­tu­al não é uni­ver­sal. Nos EUA, por exem­p­lo, padroni­zouse o uso da ASL — Amer­i­can Sign Lan­guage—, bas­tante difer­ente da nos­sa Libras, que no Brasil foi her­da­da da lín­gua de sinais france­sa. Sur­dos, porém, apren­dem muito rap­i­da­mente out­ras lín­guas ges­tu­ais, de for­ma que um sur­do brasileiro usan­do Libras e um sur­do amer­i­cano usan­do ASL con­seguirão enten­der­se mais rap­i­da­mente que um brasileiro e um amer­i­cano falan­do por­tuguês e inglês apenas.

Sem dúvi­da o uso da Libras vem avançan­do no Brasil, e as pes­soas aos poucos vão se acos­tu­man­do aos sinais, inclu­sive reduzin­do o pre­con­ceito de con­viv­er com sur­dos. É fácil ver hoje gru­pos de jovens sur­dos con­ver­san­do em Libras. O incen­ti­vo da leg­is­lacão para o emprego, tam­bém facili­ta a divul­gação social da lín­gua ges­tu­al, e cada vez mais pes­soas querem apren­der a usá-la.

Mas, resolvi­do ou pelo menos mel­ho­ra­do o mais grave prob­le­ma dos sur­dos, que é negação do aces­so à sua lín­gua ges­tu­al e prin­ci­pal méto­do de comu­ni­caçáo, tão vital que con­sti­tui um idioma próprio e pecu­liar, quais as difi­cul­dades seguintes para o proces­so edu­ca­cional e de inclusão social?

A primeira é a neces­si­dade de divul­gação da cul­tura sur­da e da com­preen­são, pelos ouvintes, do seu sig­nifi­ca­do. De maneira ger­al, essa é uma questão da aces­si­bil­i­dade. Da mes­ma for­ma que a sociedade entende hoje que é jus­to e ele­gante per­mi­tir que idosos enfrentem menos difi­cul­dades nas filas ou nos esta­ciona­men­tos, que com­puta­dores e instru­men­tos ele trôni­cos sejam mais ade­qua­dos para a leitu­ra por defi­cientes visuais, ou que o piso das praças pos­sua ele­men­tos tácteis para ser recon­heci­dos por cegos, é impor­tante apren­der como con­viv­er com sur­dos, que tam­bém pos­suem suas especificidades.

É impor­tante saber que sur­dos mor­rem muito de aci­dentes de trân­si­to, por exem­p­lo, porque motoris­tas impru­dentes sem­pre supõem que as pes­soas à sua vol­ta podem ouvir o som da buz­i­na dos car­ros e se afas­tar do cam­in­ho — o que não fun­ciona com tan­ta certeza assim com sur­dos. De igual for­ma, o socor­ro médi­co de urgên­cia presta­do a sur­dos deve evi­tar imo­bi­lizar suas mãos, caso con­trário eles não terão como prestar infor­mações a quem for atendê-los.

De maneira ger­al, há um avanço sig­ni­fica­ti­vo no Brasil nas políti­cas de aces­si­bil­i­dade, vis­tas como um req­ui­si­to de cidada­nia. Isso é sem dúvi­da um grande pro­gres­so. Mas o maior peri­go que assus­ta hoje as pes­soas que bus­cam esco­las baseadas em Libras é a com­preen­são míope de alguns edu­cadores que con- fun­dem a inclusão — como políti­ca de ensi­no públi­co — com a pri­vação da pos­si­bil­i­dade de ensi­no do idioma gestual.

1 SURDOS PRECISAM APRENDER LIBRAS
De fato, des­de a chama­da Declar­ação de Sala­man­ca a ideia pre­dom­i­nante dos edu­cadores é que o ensi­no deva ser uma práti­ca social capaz de super­ar as difer­enças indi­vid­u­ais dos alunos no proces­so edu­ca­cional, de for­ma igual­itária e solidária. Uma esco­la real­mente acessív­el, por­tan­to, não dis­tingue ‘defi­ciên­cias’ , e será capaz de suprir quais­quer restrições de apren­diza­gem que seja, decor­rentes ou não de inca­pac­i­tação físi­ca. O prob­le­ma é que dess­es princí­pios genéri­cos, recep­ciona­dos inclu­sive pela leg­is­lação brasileira de inclusão, decor­rem às vezes um fal­so entendi­men­to das vir­tudes e lim­i­tações do ensi­no para sur­dos. É que algu­mas pes­soas veem nas escoIas de sur­dos a práti­ca de uma políti­ca de seg­re­gação, opos­ta à inclusão. Nada mais falso.

A difer­ença é que o ensi­no de um idioma não pode ser feito sem a con­vivên­cia de pes­soas que pra­tiquem o mes­mo idioma. Ou seja, se os sur­dos não tiverem con­vivên­cia comum, entre sur­dos, eles não apren­dem tuguês entrar em uma esco­la amer­i­cana, poderá com o uso do intér­prete apren­der a lín­gua ingle­sa e tornar-se apta nos dois idiomas. Se isso acon­tece muito pre­co­ce­mente com uma cri­ança ouvinte, será prováv­el que ela esqueça o por­tuguês e refaça todo o seu proces­so de con­hec­i­men­to na nova lín­gua. Mas o que acon­tece com as pes­soas sur­das, em que a restrição físi­ca impede a apren­diza­gem nat­ur­al do idioma fal­a­do, seja o por­tuguês ou o inglês? Respos­ta: a com­ple­ta inca­pac­i­tação para a apren­diza­gem, em qual­quer das duas línguas.

Por isso, é fun­da­men­tal que o esta­do brasileiro, como acon­tece hoje na maio­r­ia do mun­do civ­i­liza­do, crie condições de existên­cia de esco­las de lín­guas ges­tu­ais. Elas são fun­da­men­tais para: em primeiro lugar, per­mi­tir às cri­anças sur­das que super­em a bar­reira ina­ta da inca­paci­dade de apren­diza­gem de um idioma, qual­quer que seja ele; em segun­do lugar, per­mi­tir que ouvintes pos­sam dom­i­nar a lín­gua de gestos, de maneira que os sur­dos encon­trem intér­pretes capazes de aux­il­iá-los na com­preen­são do por­tuguês e assim avançar no proces­so de aprendizagem.

No caso dos sur­dos, só podemos falar em inclusão social depois de ven­ci­da a bar­reira lin­guís­ti­ca. Para isso é pre­ciso que as cri­anças sur­das ten­ham con­ta­to pre­coce com a Libras, e é pre­ciso que o próprio idioma sur­do, a Libras, seja cul­ti­va­do e enrique­ci­do pela exper­iên­ci­ade vida e apren­diza­gem dos próprios sur­dos. É um proces­so de afir­mação cul­tur­al, tal qual todos recon­hece­mos quan­do pen­samos nos idiomas orais (have­ria Brasil, por exem­p­lo, se a lín­gua por­tugue­sa não tivesse sido fator de unifi­cacão e afir­mação cul­tur­al per­ante o resto do mun­do?) O respeito à cul­tura sur­da, cuja prin­ci­pal especi­fi­ci­dade é a lín­gua ges­tu­al, é uma questão que vai além do proces­so edu­ca­cional e se situa na ver­tente dos dire­itos à cidada­nia e respeito humanos. Para val­orizá-la é pre­ciso que a edu­cação de cri­anças sur­das comece pre­co­ce­mente, através da lín­gua de sinais. Já os defi­cientes audi­tivos (ou seja, pes­soas com lim­i­tações audi­ti­vas, mas capazes de ouvir medi­ante o uso de apar­el­hos audi­tivos e até de implante coclear) devem rece­ber assistên­cia capaz de ajudá-los a, quan­do pos­sív­el, dom­i­nar o entendi­men­to da lín­gua fal­a­da. Nun­ca é demais relem­brar que é tolice a ideia de que apren­der sinais reduz a capaci­dade do sur­do enten­der o mun­do ouvinte: esta teo­ria do sen­so comum não tem suporte cien­tí­fi­co e a real­i­dade é exata­mente o inver­so, ou seja, a lín­gua de sinais facili­ta a com­preen­são e uso do idioma falado.

Sur­dos mere­cem apoio no desen­volvi­men­to da Libras. Como lín­gua, a Libras pos­sui várias restriçóes, sendo a mais dramáti­ca delas o fato de não pos­suir rep­re­sen­tação escri­ta (há estu­dos visan­do à cri­ação de um mod­e­lo para ‘escr­ev­er’ sinais, que ain­da é pouco difun­di­do). Se os sur­dos ficarem lim­i­ta­dos à Libras, por­tan­to, terão um forte empecil­ho ao desen­volvi­men­to cul­tur­al e avanço na esco­lar­i­dade. No entan­to, o desen­volvi­men­to da lin­guagem se traduz exata­mente na ampli­ação do vocab­ulário, que dá pre­cisão e uni­formi­dade à lín­gua (intér­pretes da Libras sabem que os sinais vari­am às vezes de um Esta­do para out­ro, e que os sur­dos ado­ram cri­ar gírias e diale­tos próprios den­tro da lín­gua, que às vezes iden­ti­fi­cam e reforçam gue­tos cul­tur­ais dis­crim­i­natórios). Da mes­ma for­ma que o por­tuguês ou qual­quer out­ra lín­gua fal­a­da, o idioma é por si só sujeito de um proces­so de desen­volvi­men­to cultural.

É pre­ciso pro­por­cionar meios aos sur­dos para que esse desen­volvi­men­to acon­teça. A existên­cia de uma cul­tura sur­da per­mite a eles afir­marem-se enquan­to sujeitos capazes, per­mite que se recon­heçam per­ante o mun­do, com­preen­dam a si próprios e sejam com­preen­di­dos pelos out­ros. A nós, per­mite o respeito à difer­uwa cul­tur­al, e o dire­ito à edu­cação que ajude a super­ar as lim­i­tações da inca­paci­dade fisica.

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Oliveira Jr.

Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University, 2022).

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