
- 22/12/2022
- Oliveira Jr.
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Publicado originalmente no blog JL Política, em 03/11/2017.
Afinal, que energia é essa que vem por aí e qual a relevância dela para o Estado de Sergipe? E por que calhou de ser aqui essa obra de construção de uma termoelétrica, que vez por outra gera algumas ansiedades?
Para entender isso, temos que lembrar inicialmente que o Brasil — apesar de tantos pesares — tem um sistema moderno de comprar energia para uso futuro, o que é uma questão de fato estratégica na agenda estatal. Aqui, cabe alertar o eventual leitor que prover a oferta de energia é tão estratégico quanto prover alimentos, água e oxigênio.
A diferença é que alimentos não podem ser produzidos, distribuídos e armazenados sem energia; a água, pelo menos na qualidade que hoje requeremos para consumo humano, também não, e só o oxigênio a humanidade pode, por enquanto, deixar por conta exclusiva da natureza.
Mas estamos falando sempre de insumos vitais, cuja falta ou carência pode interromper completamente a atividade produtiva e, no limite, afetar as condições da vida no planeta. Energia, portanto, é vital. É insumo sine qua non, e essa afirmação não é uma metáfora (embora as metáforas sejam normalmente mais belas que a realidade dos fatos).
No Brasil, o Governo regula a compra antecipada de energia através de concessionárias privadas (a exemplo da nossa Energisa) e de grandes consumidores. Isso pode ocorrer em vários mercados. Mas aqui nos interessa um, em particular: os grandes leilões de energia nova, que se repetem quase anualmente para comprar energia que será entregue alguns anos após (chama-se leilão A‑5, o que compra energia para ser entregue cinco anos depois, por exemplo).
No caso da termoelétrica que vai se instalar em Sergipe, as concessionárias brasileiras de energia compraram em 2015 (pelo preço definido no leilão), a energia para dali a cinco anos. E o grupo responsável pelo empreendimento vendeu a energia que eles deverão fabricar, convertendo gás natural liquefeito em enormes geradores de potência.
Essa geração ocorrerá sob demanda: se o Operador Nacional do Sistema Elétrico (que vem a ser o “órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional – SIN -” não precisar, ela simplesmente não será gerada.
O sistema atual brasileiro de compra resolve no mercado privado o equacionamento da oferta, demanda e preços. Isso permite que o país vá otimizando sua “matriz energética”. Ou seja, compre mais energia das fontes que interessa priorizar a cada momento, observando o equacionamento de preço e de equilíbrio ambiental.
E aí vem a pergunta: e por que não energia solar ou energia eólica, se o Brasil é tão rico nesses insumos? A resposta a isso é que é necessário equilibrar a matriz energética global, sendo impossível uma única fonte de energia suprir todas as necessidades.
Nem a energia solar nem a energia eólica permitem o acondicionamento do que foi gerado. Para se ter uma ideia, toda a potência de energia solar instalada até o momento no país oriunda de leilões de outorga é inferior a um terço da capacidade a ser implantada na UTE (sigla de usina termoelétrica) Porto de Sergipe, que será instalada na Barra dos Coqueiros.
E desta vez é a chegada de gás natural liquefeito em operações privadas de importação, fato inusual no Brasil fora do sistema Petrobras. Por que então a escolha de Sergipe?
O Estado reuniu simultaneamente ótimas condições de infraestrutura de distribuição de energia, precisando apenas de poucos quilômetros adicionais de linhas de transmissão para entregar a energia na Subestação de Jardins (em Nossa Senhora do Socorro), que está conectada ao Sistema Interligado Nacional.
Também dispõe de condições marítimas adequadas para a implantação de um navio de regaseificação. Ou seja, Sergipe apesentou facilidades logísticas que permitiram a implantação do sistema de regaseificação, a instalação e a operação das gigantescas turbinas geradoras da General Elétrica que estão sendo fabricadas nos Estados Unidos, e a entrega facilitada à rede elétrica, sem grandes impactos ambientais e com competitividade de custos.
Eis porque recebemos uma obra cujo investimento somado é de cerca de R$ 5 bilhões, e que está ajudando a gerar emprego em um momento de grave crise no mercado de trabalho — na obra já há cerca de 700 pessoas trabalhando nesse momento, e deve alcançar mil até o final do ano.
E como usaremos essa energia e essas facilidades de infraestrutura logística antes pouco conhecidas para ajudar no futuro do Estado? Bem, este é assunto para, me perdoem o lugar comum, outras tantas mal traçadas linhas.
