Fiação de energia elétrica.

Pub­li­ca­do orig­i­nal­mente no blog JL Políti­ca, em 03/11/2017.

Afi­nal, que ener­gia é essa que vem por aí e qual a relevân­cia dela para o Esta­do de Sergipe? E por que cal­hou de ser aqui essa obra de con­strução de uma ter­moelétri­ca, que vez por out­ra gera algu­mas ansiedades?

Para enten­der isso, temos que lem­brar ini­cial­mente que o Brasil — ape­sar de tan­tos pesares — tem um sis­tema mod­er­no de com­prar ener­gia para uso futuro, o que é uma questão de fato estratég­i­ca na agen­da estatal. Aqui, cabe aler­tar o even­tu­al leitor que prover a ofer­ta de ener­gia é tão estratégi­co quan­to prover ali­men­tos, água e oxigênio. 

A difer­ença é que ali­men­tos não podem ser pro­duzi­dos, dis­tribuí­dos e armazena­dos sem ener­gia; a água, pelo menos na qual­i­dade que hoje requer­e­mos para con­sumo humano, tam­bém não, e só o oxigênio a humanidade pode, por enquan­to, deixar por con­ta exclu­si­va da natureza.

Mas esta­mos falan­do sem­pre de insumos vitais, cuja fal­ta ou carên­cia pode inter­romper com­ple­ta­mente a ativi­dade pro­du­ti­va e, no lim­ite, afe­tar as condições da vida no plan­e­ta. Ener­gia, por­tan­to, é vital. É insumo sine qua non, e essa afir­mação não é uma metá­fo­ra (emb­o­ra as metá­foras sejam nor­mal­mente mais belas que a real­i­dade dos fatos).

No Brasil, o Gov­er­no reg­u­la a com­pra ante­ci­pa­da de ener­gia através de con­ces­sionárias pri­vadas (a exem­p­lo da nos­sa Ener­gisa) e de grandes con­sum­i­dores. Isso pode ocor­rer em vários mer­ca­dos. Mas aqui nos inter­es­sa um, em par­tic­u­lar: os grandes leilões de ener­gia nova, que se repetem quase anual­mente para com­prar ener­gia que será entregue alguns anos após (chama-se leilão A‑5, o que com­pra ener­gia para ser entregue cin­co anos depois, por exemplo).

No caso da ter­moelétri­ca que vai se insta­lar em Sergipe, as con­ces­sionárias brasileiras de ener­gia com­praram em 2015 (pelo preço definido no leilão), a ener­gia para dali a cin­co anos. E o grupo respon­sáv­el pelo empreendi­men­to vendeu a ener­gia que eles dev­erão fab­ricar, con­ver­tendo gás nat­ur­al liq­ue­feito em enormes ger­adores de potência.

Essa ger­ação ocor­rerá sob deman­da: se o Oper­ador Nacional do Sis­tema Elétri­co (que vem a ser o “órgão respon­sáv­el pela coor­de­nação e con­t­role da oper­ação das insta­lações de ger­ação e trans­mis­são de ener­gia elétri­ca no Sis­tema Interli­ga­do Nacional – SIN -” não pre­cis­ar, ela sim­ples­mente não será gerada.

O sis­tema atu­al brasileiro de com­pra resolve no mer­ca­do pri­va­do o equa­ciona­men­to da ofer­ta, deman­da e preços. Isso per­mite que o país vá otimizan­do sua “matriz energéti­ca”. Ou seja, com­pre mais ener­gia das fontes que inter­es­sa pri­orizar a cada momen­to, obser­van­do o equa­ciona­men­to de preço e de equi­líbrio ambiental.

E aí vem a per­gun­ta: e por que não ener­gia solar ou ener­gia eóli­ca, se o Brasil é tão rico ness­es insumos? A respos­ta a isso é que é necessário equi­li­brar a matriz energéti­ca glob­al, sendo impos­sív­el uma úni­ca fonte de ener­gia suprir todas as necessidades.

Nem a ener­gia solar nem a ener­gia eóli­ca per­mitem o acondi­ciona­men­to do que foi ger­a­do. Para se ter uma ideia, toda a potên­cia de ener­gia solar insta­l­a­da até o momen­to no país ori­un­da de leilões de out­or­ga é infe­ri­or a um terço da capaci­dade a ser implan­ta­da na UTE (sigla de usi­na ter­moelétri­ca) Por­to de Sergipe, que será insta­l­a­da na Bar­ra dos Coqueiros.

E des­ta vez é a chega­da de gás nat­ur­al liq­ue­feito em oper­ações pri­vadas de impor­tação, fato inusu­al no Brasil fora do sis­tema Petro­bras. Por que então a escol­ha de Sergipe?

O Esta­do reuniu simul­tane­a­mente óti­mas condições de infraestru­tu­ra de dis­tribuição de ener­gia, pre­cisan­do ape­nas de poucos quilômet­ros adi­cionais de lin­has de trans­mis­são para entre­gar a ener­gia na Subestação de Jardins (em Nos­sa Sen­ho­ra do Socor­ro), que está conec­ta­da ao Sis­tema Interli­ga­do Nacional.

Tam­bém dis­põe de condições marí­ti­mas ade­quadas para a implan­tação de um navio de rega­seifi­cação. Ou seja, Sergipe ape­sen­tou facil­i­dades logís­ti­cas que per­mi­ti­ram a implan­tação do sis­tema de rega­seifi­cação, a insta­lação e a oper­ação das gigan­tescas turbinas ger­ado­ras da Gen­er­al Elétri­ca que estão sendo fab­ri­cadas nos Esta­dos Unidos, e a entre­ga facil­i­ta­da à rede elétri­ca, sem grandes impactos ambi­en­tais e com com­pet­i­tivi­dade de custos.

Eis porque recebe­mos uma obra cujo inves­ti­men­to soma­do é de cer­ca de R$ 5 bil­hões, e que está aju­dan­do a ger­ar emprego em um momen­to de grave crise no mer­ca­do de tra­bal­ho — na obra já há cer­ca de 700 pes­soas tra­bal­han­do nesse momen­to, e deve alcançar mil até o final do ano.

E como usare­mos essa ener­gia e essas facil­i­dades de infraestru­tu­ra logís­ti­ca antes pouco con­heci­das para aju­dar no futuro do Esta­do? Bem, este é assun­to para, me per­doem o lugar comum, out­ras tan­tas mal traçadas linhas.

 
 

 

 

Foto de José de Oliveira Júnior
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Oliveira Jr.

Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University, 2022).

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