
- 09/06/2021
- Oliveira Jr.
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Para uma didática do digital
- 09/06/2021
- Postado por: Oliveira Jr.
- Categoria: Tecnologia Educacional ,

Desafios do Designer Instrucional ou Engenheiro da Pedagogia
Resumo:
Diante dos desafios sociais, culturais e educacionais trazidos à luz pela revolução tecnológica associadas às Tecnologias da Informação, coube aos profissionais do ensino formular um novo tipo de pedagogia. O Designer Instrucional e sua metodologia específica de trabalho, associada às novas propostas educacionais no ambiente virtual, parece ter papel e competências bem definidas para um importante apoio na disseminação e eficácia do e‑learning. Neste texto, buscamos revisitar o conceito germinal de pedagogia e didática, a partir das fontes primais da sua raiz histórica, como forma de iluminar o a extensão desses desafios ainda recentes.
Palavras-chave: 1. E‑learning 2. Designer Instrucional 3. Designer Educacional. 4. Didática 5. Tecnologia da Informação 6. Ambiente Virtual de Aprendizagem
Abstract:
Given the social, cultural and educational challenges brought to light by the technological revolution associated with Information Technologies, it was up to teaching professionals to formulate a new type of pedagogy. The Instructional Designer and its specific work methodology, associated with new educational proposals in the virtual environment, seem to have a well-defined role and competences for an important support in the dissemination and effectiveness of e‑learning. In this text, we seek to revisit the germinal concept of pedagogy and didactics, from the primal sources of its historical roots to illuminate the extent of these still recent challenges.
Keywords: 1. E‑learning 2. Instructional Designer 3. Educational Designer. 4. Didactics 5. Information Technology 6. Virtual Learning Environment
1 Introdução
A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), registro oficial das atividades profissionais no Brasil, incorporou na revisão 2002 a designação da atividade “2394–35 — Designer educacional”, que tem como sinônimos as expressões “Desenhista instrucional”, “Designer instrucional” ou ainda “Projetista instrucional”. O código pertence ao grupo “2394”, que abrange os “programadores, avaliadores e orientadores de ensino” (Brasil — Ministério do Trabalho, 2002).
Na Classificação internacional de 88 (Código Internacional CIUO 88) já existia atividade similar, ainda que descrita de forma mais genérica sob o código “2351 — Especialistas en métodos pedagógicos y material didáctico” (Ministério do Trabalho e Emprego, 2010). Ainda que atendendo aos objetivos formais da classificação ocupacional, a descrição sumária das atividades dos ocupantes dos cargos abrangidos no código 2394 é detalhada:
“Implementam, avaliam, coordenam e planejam o desenvolvimento de projetos pedagógicos/instrucionais nas modalidades de ensino presencial e/ou a distância, aplicando metodologias e técnicas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Atuam em cursos acadêmicos e/ou corporativos em todos os níveis de ensino para atender as necessidades dos alunos, acompanhando e avaliando os processos educacionais. Viabilizam o trabalho coletivo, criando e organizando mecanismos de participação em programas e projetos educacionais, facilitando o processo comunicativo entre a comunidade escolar e as associações a ela vinculadas” (Ministério do Trabalho e Emprego, 2010, pg. 321).
Apesar de legalmente estabelecida, o conceito persiste sendo objeto da literatura e pesquisa recente em educação para se perquirir os limites e desdobramentos das competências profissionais do designer instrucional, delimitando suas responsabilidades e a extensão da sua contribuição para o aprimoramento dos métodos de ensino, sobretudo virtuais.
Neste artigo, revisitamos artigos textos onde esse conceito é dissecado para ir além da definição estrita abrigada pela legislação brasileira e buscar remeter as competências e atividades destes profissionais ao que se busca hoje como avanço na prática educacional, que e vale das inovações da tecnologia informacional e da internet como suporte para novos modelos de ensino-aprendizagem.
2 O Designer Instrucional e suas novas possibilidades
2. 1 Conceito consensual
A maior parte dos autores que se buscam conceituar a atividade do Designer Instrucional concordam quanto à sua atividade, como decorrente de um método de fazer, ou seja uma modalidade de implementação de um tipo de técnica, capaz de auxiliar no campo mais geral dos processos educacionais. Como afirma Barreiro “o design instrucional ou desenvolvimento instrucional (DI), [é] uma nova área de atuação ligada à Educação, mais precisamente à produção de materiais didáticos. Configura-se como uma metodologia que surgiu com as novas práticas do fazer pedagógico e colocam, agora, o aluno no centro do processo de ensino-aprendizagem. Sua história é muito próxima à da Educação a Distância (EaD), sendo, inicialmente, uma prática utilizada quase que exclusivamente nessa modalidade. O DI engloba conhecimentos dos campos de Design, Comunicação, Pedagogia e Tecnologia da Informação. O designer instrucional é o profissional que aplica tal metodologia” (Barreiro, 2016, pg. 63).
Tentando entender melhor sua prática profissional a partir da própria experiência, Chaquime & Figueiredo (2013) dizem que “o designer instrucional é o responsável por dar o apoio pedagógico, especialmente nas etapas de planejamento, desenvolvimento e avaliação, de modo que o conteúdo do curso seja motivador e propicie ao aluno a construção colaborativa do conhecimento mediado pelas tecnologias. Disso depreende-se que o designer instrucional desempenha um papel estratégico na equipe multidisciplinar no sentido em que cabe a ele gerenciar a comunicação entre todos os envolvidos em projetos de cursos de EaD”.
A maior parte dos textos refere-se, portanto, a um método e um profissional que o aplica. Estamos diante não do típico desdobramento de uma nova tecnologia e seus mecanismos de aplicação associados, é o que nos diz o conceito.
Para remeter então a um conceito caro aos profissionais da educação, recuperamos a expressão do artigo de Sciarra & Lourenção (2019), que dizem já no título: “Designer educacional ou instrucional: o novo pedagogo da era digital”. De certa forma, apesar dos instrumentos e da técnica baseada na informação (e seus muitos desdobramentos, quer pelo mundo virtual da internet quer pelas profundas transformações da sociedade e da cultura, a cibercultura), o que se fala é de novo de um profissional capaz de fazer a mediação entre esses novos instrumentos e o resultado educacional pretendido.
2.2 Etimologia clássica de Pedagogia e Didática
Os conceitos primais da educação remontam ao conhecimento clássico da Grécia antiga. De lá recuperamos a etimologia da expressão pedagogia, que supre seu conceito (Veschi, 2020):
“Observa-se no grego como paidagogía, sobre a ideia de acompanhar o indivíduo. A desconstrução permite identificar os componentes paidos, que se refere a um filho (que proporciona um ângulo global) e que pode ser interpretado também como criança (no entanto, neste contexto, estaria limitando o foco da ação), e o verbo agein sobre a raiz indo-europeia ag‑, em relação a orientar ou conduzir. Por sua vez, a figura do pedagogo está localizada no latim paedagōgus, em relação ao grego paidagōgós. Neste sentido, deve-se destacar que os primeiros pedagogos, os paidagogos, eram escravos de famílias ricas e entre suas tarefas cotidianas tinham que dar as mãos e acompanhar as crianças até a escola. Para referir à educação de adultos, a palavra correta é andragogia (Veschi, 2020, página “pedagogia”).”
Mas tanto para a pedagogia como na andragogia, era crucial o conceito de didática (Veschi, 2020): “Sua passagem responde ao francês como didactique, em referência ao grego em didaktikós, expressão adjetiva para indicar a qualidade de saber instruir, sobre o particípio passado didaktos, ensinado, a respeito do verbo didaskein, por ensinar, sobre a raiz indo-europeia *dens, por aprender. Em seguida, intervém o sufixo -ico, em caráter de relação. A forma feminina é apresentada como didática.”
Ocupando-se da didática como conceito, Althaus e Zanon a qualificam como “teoria da docência”. E ensinam: “a palavra didática deriva da expressão grega — techné didaktiké -, que se traduz por arte ou técnica de ensinar (Althaus & Zanon, 2009).”
2.2 Competências do Designer
As técnicas educativas empregadas em qualquer processo de ensino-aprendizagem se enquadram nas disciplinas da pedagogia (e andragogia, se ainda quisermos diferenciar como os gregos, a prática em relação ao público-alvo do ensino). Sua expressão como método se remete à didática, que desde seu surgimento busca aplicar uma técnica (como gostavam os gregos). Se naquela época a técnica emergente era, talvez, a escrita, no mundo moderno a técnica vai muito mais além e desde a virada do milênio se prende à onipresença da internet como ferramenta do conhecimento humano e, pois, da sua experiência de aprendizagem.
Voltemos por um momento a mais desdobramentos da descrição atual das competências do designer instrucional.
Há um ponto ainda em certo conflito na designação de designer instrucional versus o designer educacional. Para alguns, seria necessário verificar se, por serem diferentes os expressos “instrução” e “educação” não seria o segundo termo mais bem adequado ou ainda se haveria diferença na prática laboral dos dois ofícios. Macedo & Bergmann (2018) chegam a propor uma pesquisa científica, cujo objeto seria estabelecer a diferenciação.
No entanto, parece ao autor bastante claro que a principal repositório prática deste debate reside na compilação e permanente revisão do conceito realizado pelo IBSTPI — International Board of Standards for Training, Performance and Instruction. A pesquisa iniciada em 1986 junto a profissionais “instrucional designers” foi revisada e estendida em 2000 e 2012, sendo permanente objeto de contribuições dos profissionais abrangidos pela entidade (“IBSTPI”, [s.d.]).
À lista de competências iniciais vários outros temas foram agregados, discutindo hoje avanços que incorporaram “a influência de tecnologias avançadas, design baseado em equipe e habilidades de gerenciamento de negócios; as bases profissionais de design, bem como planejamento e análise, design e desenvolvimento e habilidades de implementação e gestão; uma categorização de competências como Essenciais ou Avançadas e uma maior representação de profissionais em todo o mundo (incluindo diretores, especialistas consultados e profissionais ativos que participam dos estudos de validação)”.
A publicação pela entidade dessas competências produz um padrão de recebe reconhecimento global, e caracteriza-se como fonte adequada para o consenso, não apenas acadêmico, mas profissional, das pessoas que desempenham ou estudam essas atividades.
Contudo, um aspecto importante é diferenciar a acepção da palavra designer, cuja tradução em português, pela semelhança vocabular remete a desenho (e assim de fato aparece na CBO, como vimos inicialmente). Mas a expressão original em inglês tem uma acepção um pouco diferenciada, que na língua portuguesa não se desenvolveu do mesmo modo, apesar da origem latina.
Podemos compreender essa distinção da seguinte forma:
“O termo design instrucional vem traduzido do original em inglês, que significa projeto ou desenho instrucional, pedagógico, didático, educacional. Em sua origem, a palavra design corresponde à intenção, propósito; vem do latim designare, marcar, indicar, e do francês designer, desenhar, designar. A definição difundida do design como sendo a concepção de um produto, em sua forma e função, traz uma distinção polêmica sobre o conceito de design de superfície, envolvido com os aspectos estéticos, e com o design ligado ao funcionamento de um produto, mais envolvido com a engenharia (dispositivos e processos). (Batista, 2008, pg. 142).
E assim voltamos às origens clássicas das nossas definições, agora pelo latim designare, que em português ganhou o sentido predominante de indicar, apontar. Mas a acepção mais corrente em inglês leva a um conceito mais amplo, que não se prende apenas ao chamado “design de superfície”, abrangendo também os fluxos e processos e, portanto, se aproximando muito das noções de engenharia ou arquitetura.
3 Considerações Finais
Mas o que podemos concluir da extensa lista de atividades que o designer educacional lida? Tratamos nesse artigo de rever as diversas formulações do conceito, navegando um pouco por um conjunto de referências teóricas bem distintas e por duas compilações profissionais bem densas: a descrição ocupacional oficial da CBO brasileira (Brasil — Ministério do Trabalho, 2002) e um standard mundial, definido pela IBSTPI (“IBSTPI”, [s.d.]).
Como vimos, não há controvérsias significativas sobre a importância dessa nova ocupação e o papel desse profissional no desenvolvimento das atividades educacionais.
Há, contudo, uma necessidade intensa de rever o detalhamento das atribuições executadas na rotina de elaboração dos seus trabalhos, devido ao intenso cenário de modificações trazidas pelo ambiente tecnológico.
Por outro lado, vimos que os conceitos tradicionais relacionados ao papel da didática na pedagogia suprem, de forma surpreendente, parte das indagações modernas sobre a atuação dos profissionais das novas técnicas e suas responsabilidades educacionais.
De fato, voltamos à Grécia clássica para rever o sentido original da palavra pedagogia e da didática, que, desde a origem seminal, referia-se ao domínio da técnica como elemento fundamental para a atividade pedagógica, para o domínio da arte de ensinar.
E a tradução para o português da palavra design, ainda que tão corrente hoje em dia, remete a uma diferença de acepção marcante, que por vezes oculta seu real sentido, deixando de expressar uma “engenharia de processos”, bem mais que um conceito de “desenho de superfície”. Talvez por isso, em francês é muito comum referir-se ao que aqui chamamos de designer instrucional como “ingénieur pédagogique”, uma expressão bem mais completa por certo: uma engenharia pedagógica.
Assim, o que continuamos a ter na modernidade da cibercultura continua a ser um gap de saberes que podemos entender como um problema de aprendizagem. Sobre esse problema debruçam-se, como antes, os professores em seus vários misteres dentre os quais, como tantas vezes em outras revoluções ou evoluções tecnológicas compreende-se também a aprendizagem desse novo domínio virtual e seu uso para a melhoria do permanente, infindável e belo processo de educação-aprendizagem.
4 Referências Bibliográficas
Althaus, M. T. M., & Zanon, D. P. (2009). Didática: Questões de ensino. Ed. UEPG/NUTEAD.
Barreiro, R. M. C. (2016). Um breve panorama sobre o design instrucional. EaD em Foco, 6(2). https://doi.org/10.18264/eadf.v6i2.375
Batista, M. L. F. S. (2008). Design Instrucional: Uma abordagem do design gráfico para o desenvolvimento de ferramentas de suporte à Educação à Distância. https://www.faac.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/Design/Dissertacoes/marcia_batista.pdf
Brasil — Ministério do Trabalho. (2002). Classificação Brasileira de Ocupações. http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/
Chaquime , L. P., & Figueiredo, A. P. S. (2013, junho). O Papel do Designer Instrciona na Elaboração de Cursos de Educação à Distância. X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância, Belém/PA. encurtador.com.br/zMTX0
IBSTPI. ([s.d.]). Instructional Designer Competencies. Recuperado 9 de junho de 2021, de https://ibstpi.org/instructional-design-competencies/
Macedo, C. C., & Bergmann, J. C. F. (2018). O designer instrucional e o designer educacional no brasil: Reflexões para uma visão teórica e prática na ead. Jornada ECO de Pesquisas em Desenvolvimento, 0(1), 20–26.
Ministério do Trabalho e Emprego. (2010). Classificação Brasileira de Ocupações (3a.). https://wp.ufpel.edu.br/observatoriosocial/files/2014/09/CBO-Livro‑1.pdf
Sciarra, A. M. P., & Lourenção, L. G. (2019). Designer educacional ou instrucional: O novo pedagogo da era digital. Enfermagem Brasil, 18(2), 166. https://doi.org/10.33233/eb.v18i2.2867
Veschi, B. (2020). Etimologia—Origem do Conceito [Blog]. Didático. https://etimologia.com.br/