Navio de regaseificação
Por Ricardo Lacerda(1) e José de Oliveira Junior

Foi lança­da na últi­ma quar­ta-feira no municí­pio da Bar­ra dos Coqueiros, com a pre­sença do Gov­er­nador Jack­son Bar­reto, a pedra fun­da­men­tal da Usi­na Ter­moelétri­ca (UTE) Por­to de Sergipe. A UTE Por­to de Sergipe terá a capaci­dade de ger­ar 1.500 MGW e é, no momen­to, a maior usi­na ter­moelétri­ca pro­je­ta­da do país e da Améri­ca Lati­na. Para avaliar a dimen­são do empreendi­men­to é sufi­ciente assi­nalar que a UTE Por­to de Sergipe equiv­ale a meia Usi­na Hidrelétri­ca de Xin­gó, situ­a­da na divisa entre Sergipe e Alagoas, que tem o poten­cial de ger­ação de 3.162 MGW.

A pre­visão é que as obras de insta­lação da UTE durem 36 meses e que, em 2019, a Usi­na Por­to de Sergipe já este­ja pronta. Por obri­gação con­trat­u­al, ela dev­erá entrar em ple­na oper­ação no iní­cio de 2020.

A UTE Por­to de Sergipe inte­grará o Com­plexo de Ger­ação de Ener­gia Gov­er­nador Marce­lo Déda que pre­vê a insta­lação de duas out­ras unidades. Para gerir a UTE foi cri­a­da a empre­sa Cen­trais Elétri­c­as de Sergipe, a CELSE, cuja dimen­são dos negó­cios já a qual­i­fi­ca como um dos maiores empreendi­men­tos indus­tri­ais pri­va­dos do esta­do, somente rival­iza­do pela empre­sa Vale. Os inves­ti­men­tos para a insta­lação das unidades dev­erão alcançar mon­tante supe­ri­or a R$ 5 bil­hões. No perío­do de insta­lação da UTE Por­to de Sergipe serão ger­a­dos 1.700 empre­gos, entre dire­tos e indiretos.

A implan­tação de empreendi­men­to de tal porte, em uma ativi­dade estratég­i­ca para o desen­volvi­men­to econômi­co como a ger­ação de ener­gia, tem muitos sig­nifi­ca­dos para Sergipe e para o Brasil e, ao mes­mo tem­po, reflete uma mudança rad­i­cal na insti­tu­cional­i­dade que mar­cará daqui por diante os grandes pro­je­tos de infraestru­tu­ra energéti­ca a serem implan­ta­dos no país.

É sim­bóli­co que o empreendi­men­to se situe no espaço des­ti­na­do nos anos noven­ta ao Polo Cloroquímico de Sergipe, em área con­tigua ao Ter­mi­nal Por­tuário Iná­cio Barbosa.

O Polo Cloroquímico de Sergipe, como se sabe, jamais saiu do papel. Ape­sar dos inves­ti­men­tos feitos na infraestru­tu­ra de ter­ra­plan­agem, drenagem e pavi­men­tação das vias inter­nas nen­hu­ma empre­sa cloroquímica ou de out­ro setor de ativi­dade foi insta­l­a­da na área.

Não foi, cer­ta­mente, por fal­ta de empen­ho de gov­er­nantes e téc­ni­cos que o polo cloroquímico não se con­cretizou e sim por con­ta de pro­fun­das mudanças nas for­mas de reg­u­la­men­tação das ativi­dades no setor.

Nova institucionalidade

As novas for­mas de fun­ciona­men­to da econo­mia brasileira inau­gu­radas na déca­da de noven­ta, com a aber­tu­ra do mer­ca­do inter­no à com­petição glob­al e com a desreg­u­la­men­tação da ativi­dade pro­du­ti­va, muito especi­fi­ca­mente nos polos das indús­trias de base, encer­rou as per­spec­ti­vas de implan­tação de novos com­plex­os cap­i­tanea­d­os pelo setor pro­du­ti­vo estatal, forte­mente pro­te­gi­dos da com­petição externa.

Ness­es quase trin­ta anos entre a con­cepção do Polo Cloro­quimí­co de Sergipe e o iní­cio da implan­tação do Com­plexo de Ger­ação de Ener­gia Gov­er­nador Marce­lo Déda tive­mos não ape­nas a refor­ma ortográ­fi­ca que retirou o acen­to agu­do da palavra polo como a natureza da reg­u­la­men­tação da ativi­dade econômi­ca sofreu rad­i­cal transformação.

A UTE Por­to de Sergipe resul­tou de arran­jo insti­tu­cional com­plexo que foi estru­tu­ra­do entre empre­sas nacionais, empre­sas transna­cionais prove­do­ras de tec­nolo­gia e de supri­men­tos e fun­dos de inves­ti­men­tos estrangeiros.

O Consórcio

A con­cepção do pro­je­to teve ini­cio ain­da em 2012 quan­do a empre­sa brasileira Gen­Pow­er procurou o Gov­er­no de Sergipe demon­stran­do inter­esse em implan­tar uma unidade de ger­ação de ener­gia no esta­do. Ao lado de par­ceiros, o grupo empre­sar­i­al alcançou suces­so no Leilão A­5 de Ener­gia de abril de 2015 para a implan­tação da UTE Por­to de Sergipe.

A estru­tu­ração do pro­je­to con­tou com a par­tic­i­pação da Golar LNG Lim­it­ed, empre­sa de origem ingle­sa, socia do empreendi­men­to e fornece­do­ra do navio de regaseificação, e do grupo per­nam­bu­cano de ener­gia EBrasil.

A gigante petrolífera Exxon Mobil par­tic­i­pa com o mega­con­tra­to para fornec­i­men­to de gás nat­ur­al para a Usi­na Ter­moelétri­ca Por­to de Sergipe, deci­si­vo para a implan­tação do empreendi­men­to. Os investi­dores for­maram o grupo GG Pow­er, respon­sáv­el pelo pro­je­to. O grupo GG Pow­er tem como par­ceiro investi­dor na UTE Por­to de Sergipe a Stone­Peak Infra­struc­ture Part­ners, fun­do de inves­ti­men­to norte­ amer­i­cano com sede em Nova York.

Será insta­l­a­da uma unidade flu­tu­ante de rega­seifi­cação no Ter­mi­nal Marí­ti­mo Iná­cio Bar­bosa que recebe o gás nat­ur­al em esta­do líqui­do e o devolve ao esta­do gasoso.

O Com­plexo Ter­melétri­co Gov­er­nador Marce­lo Déda pre­vê a insta­lação de mais duas usi­nas de ger­ação, a UTE Marce­lo Déda e UTE Laran­jeiras que virão a ser disponi­bi­lizadas em leilão da ANEEL. Quan­do com­ple­to, o com­plexo ger­ará cer­ca de 3 mil megawatts de ener­gia, da mes­ma grandeza da Hidrelétri­ca de Xingó.

A via­bi­liza­ção da UTE Por­to de Sergipe é o iní­cio da con­cretiza­ção do son­ho aca­len­ta­do por décadas de implan­tação de um polo indus­tri­al de grande porte na região por­tuária de Sergipe. A expec­ta­ti­va do gov­er­no e dos investi­dores é de que a disponi­bil­i­dade de ampla ofer­ta de gás nat­ur­al atrairá impor­tantes pro­je­tos indus­tri­ais para a região, em prol do desen­volvi­men­to econômi­co e social de Sergipe, em for­ma­to insti­tu­cional que não esta­va no hor­i­zonte das pos­si­bil­i­dades nos anos oiten­ta e noventa.

(1) Ricardo Lacerda de Melo é Professor de Economia na Universidade Federal de Sergipe e autor do blog “Cenários de Desenvolvimento”.
 
Este artigo foi publicado pelo Jornal da Cidade, edição de 02/10/2016 (print abaixo) e  postado no blog ‘Cenários …‘em 03/10/2016.


Artigo no Jornal da Cidade
Arti­go no Jor­nal da Cidade
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Oliveira Jr.

Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University, 2022).

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