Mãos fazem sinais

Ferramentas Importantes para o e‑learning

José de Oliveira Júnior[1]

Resumo:

Como em muitos cam­pos do avanço tec­nológi­co recente, fer­ra­men­tas dig­i­tais estão per­mitin­do a expan­são do suporte às pes­soas com neces­si­dades espe­ci­ais. A expressão tec­nolo­gia assis­ti­va tem se tor­na­do recor­rente para des­ig­nar um con­jun­to amp­lo de fer­ra­men­tas, que incluem equipa­men­tos, serviços e recur­sos diver­si­fi­ca­dos capazes de pro­por­cionar aju­da na apren­diza­gem e inter­ação social de pes­soas com defi­ciên­cia, per­mitin­do avanços nas estraté­gias edu­ca­cionais de ensi­no-apren­diza­gem. Neste tex­to, par­ti­mos do con­ceito de tec­nolo­gia assis­ti­va ou aju­das téc­ni­cas, como sug­ere a leg­is­lação edu­ca­cional brasileira, para mapear alguns aspec­tos de importân­cia deci­si­va na edu­cação e inclusão social de pes­soas sur­das (e não ape­nas defi­cientes audi­tivos), focan­do nas especi­fi­ci­dades das lín­guas de sinais como a LIBRAS e seu uso edu­ca­cional e no e‑learning, refletindo sobre como essas fer­ra­men­tas podem con­tribuir para a cul­tura dig­i­tal e for­mação de pro­fes­sores.  Intro­duz ele­men­tos para a reflexão da éti­ca nas escol­has tec­nológ­i­cas, que não podem estar dis­so­ci­adas da intro­dução da tec­nolo­gia assis­ti­va na edu­cação especial.

Palavras-chave: e‑learning, tec­nolo­gia assis­ti­va, aju­das téc­ni­cas, sur­dez, LIBRAS, cul­tura digital.

Abstract:

As in many fields of recent tech­no­log­i­cal advance­ment, dig­i­tal tools are enabling the expan­sion of sup­port for peo­ple with spe­cial needs. The term assis­tive tech­nol­o­gy has become recur­rent to des­ig­nate a broad set of tools, which include equip­ment, ser­vices and diver­si­fied resources capa­ble of pro­vid­ing help in the learn­ing and social inter­ac­tion of peo­ple with dis­abil­i­ties, allow­ing advances in edu­ca­tion­al teach­ing-learn­ing strate­gies. In this text, we start from the con­cept of assis­tive tech­nol­o­gy or tech­ni­cal aids, as sug­gest­ed by the Brazil­ian edu­ca­tion­al leg­is­la­tion, to map some aspects of deci­sive impor­tance in the edu­ca­tion and social inclu­sion of deaf peo­ple (and not just the hear­ing impaired), focus­ing on the speci­fici­ties of sign lan­guages such as LIBRAS and its edu­ca­tion­al use and in e‑learning, reflect­ing on how these tools can con­tribute to dig­i­tal cul­ture and teacher train­ing. It intro­duces ele­ments for the reflec­tion of ethics in tech­no­log­i­cal choic­es, which can­not be dis­so­ci­at­ed from the intro­duc­tion of assis­tive tech­nol­o­gy in spe­cial education.

Key­words: e‑learning, assis­tive tech­nol­o­gy, tech­ni­cal aids, deaf­ness, LIBRAS, dig­i­tal culture.

1 Intro­dução

O con­ceito de tec­nolo­gia assis­ti­va é sem dúvi­da bas­tante amp­lo, pois abrange uma diver­si­dade de instru­men­tos que, gener­i­ca­mente, podem se ben­e­fi­ciar de avanços recentes tec­nológi­cos recentes, mas que de maneira algu­ma limi­tam-se ao ter­ritório do dig­i­tal. Bersch (2017)[2] entende que o ter­mo abrange “uma ampla gama de equipa­men­tos, serviços, estraté­gias e práti­cas con­ce­bidas e apli­cadas para mino­rar os prob­le­mas fun­cionais encon­tra­dos pelos indi­ví­du­os com deficiências”.

Des­ta for­ma, as tec­nolo­gias assis­ti­vas são dis­tribuí­das por cat­e­go­rias de uso, que incluem des­de obje­tos do uso diário de con­cepção rel­a­ti­va­mente sim­ples (mas muito fun­cionais para quem pre­cisa deles) como tal­heres adap­ta­dos ou cadarços espe­ci­ais com molas, até dis­pos­i­tivos bem mais com­plex­os que uti­lizam com­puta­dores para geren­ciar funções sofisti­cadas agre­gadas a próte­ses e órte­ses, como em alguns apar­el­hos auditivos.

No entan­to, dada a abrangên­cia do con­ceito, é impor­tante delim­itá-lo pela exclusão daqui­lo que não deve ser trata­do como tec­nolo­gia assis­ti­va, como segue:

Quan­do então a tec­nolo­gia pode ser con­sid­er­a­da Assis­ti­va no con­tex­to edu­ca­cional? Quan­do ela é uti­liza­da por um aluno com defi­ciên­cia e tem por obje­ti­vo romper bar­reiras sen­so­ri­ais, motoras ou cog­ni­ti­vas que limitam/impedem seu aces­so às infor­mações ou limitam/impedem o reg­istro e expressão sobre os con­hec­i­men­tos adquiri­dos por ele; quan­do favore­cem seu aces­so e par­tic­i­pação ati­va e autôno­ma em pro­je­tos pedagógi­cos; quan­do pos­si­bili­tam a manip­u­lação de obje­tos de estu­dos; quan­do percebe­mos que sem este recur­so tec­nológi­co a par­tic­i­pação ati­va do aluno no desafio de apren­diza­gem seria restri­to ou inex­is­tente. São exem­p­los de TA no con­tex­to edu­ca­cional os mous­es difer­en­ci­a­dos, tecla­dos vir­tu­ais com varreduras e acionadores, soft­wares de comu­ni­cação alter­na­ti­va, leitores de tex­to, tex­tos ampli­a­dos, tex­tos em Braille, tex­tos com sím­bo­los, mobil­iário acessív­el, recur­sos de mobil­i­dade pes­soal etc. (Bersch, 2017, p. 12).

Um aspec­to a destacar é que o foco da nos­sa atenção nesse arti­go é o sujeito que se define cul­tural­mente como sur­do e uti­liza a lín­gua de sinais. Esse pon­to tem uma importân­cia especí­fi­ca, que deve ser desta­ca­da aqui: mes­mo espe­cial­is­tas no tra­bal­ho jun­to a pes­soas com defi­ciên­cia às vezes con­cen­tram seus esforços em apar­el­hos para faz­er ouvir. No entan­to, o que pode ser uma solução para o defi­ciente audi­ti­vo (pes­soa que perdeu par­cial­mente a capaci­dade de ouvir, mas que per­manece capaz de se comu­nicar oral­mente) é muitas vezes, em relação ao sur­do, uma repetição do vel­ho pre­con­ceito capaci­tista: pen­sa-se na sur­dez como doença e em pro­por­cionar a audição como cura, e assim descreve-se os recur­sos da tec­nolo­gia assis­ti­va como  aque­les volta­dos a “faz­er ouvir”, ou “curar a sur­dez”, rela­cio­nan­do-se uma gama de apar­el­hos audi­tivos e todo um uni­ver­so de per­iféri­cos ao seu redor que serve para a ampli­fi­cação de sinais sonoros. Ess­es equipa­men­tos sim­ples­mente não aju­dam no mais impor­tante prob­le­ma que uma cri­ança sur­da pre­cisa resolver para con­seguir desen­volver-se como pes­soa, que é adquirir lin­guagem, ser capaz de assim­i­lar uma lín­gua (que obvi­a­mente não pre­cisa ser oral).

Para se enten­der a abrangên­cia da LIBRAS, recor­re­mos aqui a Barth & San­tarosa (2005, p. 110):

“Tan­to a LIBRAS quan­to sua escri­ta pos­sui um con­jun­to de regras como gramáti­ca, semân­ti­ca, prag­máti­ca, preenchen­do todos os req­ui­si­tos cien­tí­fi­cos para que seja con­sid­er­a­da um instru­men­tal lin­guís­ti­co pos­suido­ra de poder e força comu­nica­ti­va. É con­sti­tuí­da por todos os ele­men­tos clas­si­fi­catórios iden­ti­ficáveis do que requer um con­ceito de ‘lín­gua”, e é necessário práti­ca para que haja um apren­diza­do. É uma lín­gua viva, que pos­sui autono­mia, sendo recon­heci­da pela linguística.”

Com essas pre­mis­sas, procu­ramos destacar a con­tribuição de algu­mas tec­nolo­gias de maior relevân­cia no ensi­no de sur­dos com LIBRAS, ver­i­ficar como o uso de tec­nolo­gias assis­ti­vas pode levar a resul­ta­dos de apren­diza­gem mais sig­ni­fica­tivos, quer no ambi­ente con­ven­cional de sala de aula ou no e‑learning. Para isso baseamo-nos na lit­er­atu­ra acadêmi­ca sobre o tema, que é na ver­dade ain­da rel­a­ti­va­mente escas­sa, como tam­bém na exper­iên­cia pes­soal de con­vivên­cia com surdos.

Obvi­a­mente, um pas­so impor­tante pos­te­ri­or seria ampli­ar essa pesquisa avalian­do dire­ta­mente com os próprios sur­dos a efi­ciên­cia das fer­ra­men­tas, com ques­tionários apro­fun­da­dos e uma amostragem mais bem defini­da. Con­tu­do, isso levaria esse arti­go a uma com­plex­i­dade que extrap­o­la o obje­ti­vo ini­cial do autor, de mapea­men­to ini­cial da proposta.

2 Cog­nição da Lín­gua e Cul­tura Surda

 Ao lon­go da história, parece que o pre­con­ceito social e a incom­preen­são sobre as difi­cul­dades do sur­do para a apren­diza­gem causaram mais male­fí­cios às pes­soas sur­das que a própria pri­vação da audição. Somente o puro pre­con­ceito e a ignorân­cia podem jus­ti­ficar o temor que algu­mas sociedades apre­sen­taram da lín­gua de sinais, pres­ti­gian­do pro­postas – em tristes momen­tos, defen­di­das tam­bém por edu­cadores – de pri­var os sur­dos da pos­si­bil­i­dade de uso dos sinais para obrigá-lo a falar tal qual os ouvintes.

Mod­er­na­mente, sur­dos fre­quen­tam cur­sos de nív­el supe­ri­or e par­tic­i­pam de ativi­dades profis­sion­ais que requerem alto desem­pen­ho cog­ni­ti­vo, mas essa é uma real­i­dade ain­da pouco comum, longe de poder ser admi­ti­da com regra ger­al para as pes­soas sur­das, sobre­tu­do para aque­las que além da pri­vação da audição sofrem tam­bém com a pobreza e exclusão social. O fato alen­ta­dor é que, com a apren­diza­gem pre­coce da lín­gua de sinais e o uso de fer­ra­men­tas tec­nológ­i­cas de apoio, os sur­dos esta­b­ele­cem canais e comu­nidades de apoio que per­mitem rápi­dos avanços na apren­diza­gem, e a própria sociedade ocu­pa-se hoje de com­bat­er e crim­i­nalizar o pre­con­ceito, facil­i­tan­do a con­vivên­cia social e per­mitin­do aos sur­dos o respeito e apoio que precisam.

Nem sem­pre foi assim, e os sur­dos já con­sid­er­a­dos párias, inca­pazes, e adje­ti­va­dos da pior for­ma pos­sív­el quan­do não sujeitos a exclusão, dis­crim­i­nação, tor­tu­ra e até mes­mo assas­si­na­dos. Mas a pior e mais con­stante agressão é aque­la que se ver­i­fi­ca quan­do lhe são negadas condições de aces­so à apren­diza­gem de lín­gua de sinais. Pri­va­dos da pos­si­bil­i­dade de apren­diza­gem de uma lín­gua, os sur­dos per­dem a capaci­dade de apren­diza­gem e con­ví­cio social, prej­u­di­can­do o desen­volvi­men­to intelectual.

Pas­so impor­tante na história dos sur­dos foi sem dúvi­da o pro­tag­o­nis­mo de pro­fes­sores sur­dos, que se tornaram refer­ên­cia de con­hec­i­men­to para seus pares. Lage e Kel­man (2019), recu­peran­do a história da atu­ação do notáv­el pro­fes­sor francês sur­do Fer­di­nand Berthi­er, que viveu na França entre 1803 e 1886, mostram como naque­la época esse já era um aspec­to con­sid­er­a­do, e con­cluem seu estu­do pug­nan­do por uma afir­ma­ti­va que con­sid­er­am sufi­cien­te­mente demon­stra­da pela história: “Sur­dos pre­cisam ser edu­ca­dos priv­i­le­gian­do a lín­gua de sinais.” (Lage & Kel­man, 2019, p. 19).

Se esse é princí­pio é admi­ti­do, out­ra pre­mis­sa que evi­ta dis­torções con­ceitu­ais é destacar que a LIBRAS, assim como as demais lín­guas de sinais, não são tec­nolo­gias, e sim man­i­fes­tação cul­tur­al própria de pes­soas que, por uma restrição sen­so­r­i­al, sub­sti­tuíram a lín­gua fal­a­da con­ven­cional por out­ra, que con­têm todos os ele­men­tos rel­e­vantes necessários à plen­i­tude da comu­ni­cação, da apren­diza­gem e do desen­volvi­men­to socio­cul­tur­al dos que a praticam.

Cabe igual­mente dis­tin­guir os sur­dos de pes­soas com defi­ciên­cias audi­ti­vas. A condição da sur­dez é cul­tur­al: o sujeito sur­do se define como tal, encon­tra iden­ti­dade com out­ros sur­dos e leva em con­ta como opção lin­guís­ti­ca o uso da lín­gua de sinais. Difer­ente de uma pes­soa com uma restrição audi­ti­va que pode ser com­pen­sa­da, por exem­p­lo, por um apar­el­ho audi­ti­vo – aí sim, um exem­p­lo de tec­nolo­gia assis­ti­va – e com esse tipo de apoio obter edu­cação e desen­volvi­men­to lin­guís­ti­co pleno usan­do a lín­gua falada.

Cul­tura sur­da é o jeito de o sujeito sur­do enten­der o mun­do e de mod­i­ficá-lo a fim de torná-lo acessív­el e habitáv­el, ajustando‑o com as suas per­cepções visuais, que con­tribuem para a definição das iden­ti­dades sur­das e das ‘almas’ das comu­nidades sur­das. Isto sig­nifi­ca que abrange a lín­gua, as ideias, as crenças, os cos­tumes e os hábitos do povo sur­do (Per­lin & Stro­bel, 2014, p. 24).

O respeito a essa con­cepção cul­tur­al define o espaço em que podemos situ­ar a bus­ca por tec­nolo­gias assis­ti­vas efi­cientes de apoio ao ensi­no de sur­dos: naqui­lo em elas são assis­ti­vas, o que quer diz­er, aux­il­iares. Nun­ca ultra­pas­san­do o lim­ite da con­cepção de mun­do em que o próprio sur­do se colo­ca e que exige para a apren­diza­gem o respeito à sua lín­gua. Asse­gu­ra­da essa pre­mis­sa, as tec­nolo­gias exercem um impor­tante papel, que ver­e­mos a seguir relata­dos para algu­mas tec­nolo­gias especificas.

3 Tec­nolo­gia Assis­ti­va para ensi­no de Surdos

3.1 Fer­ra­men­tas de uti­liza­ção do “Sign­wrint­ing”

O “Sign­writ­ing”, um sis­tema de escri­ta para lín­guas ges­tu­ais, foi cri­a­do por Valerie Suton e vem se desta­can­do mundial­mente como um dos mais impor­tantes avanços para con­sol­i­dar e padronizar as lín­guas ges­tu­ais no mun­do. A LIBRAS, assim como a ASL (Amer­i­can Sign Lan­guage, usa­da no EUA), ou as lín­guas de sinais de vários out­ros país­es, não tem uma rep­re­sen­tação fonéti­ca. Uma for­ma de escr­ev­er a lín­gua sem pre­cis­ar de uma tran­scrição inter­mediária por lín­guas fal­adas cria pos­si­bil­i­dades fan­tás­ti­cas de desen­volvi­men­to linguístico.

No Brasil, a pesquisado­ra sur­da Mar­i­anne Stumpf ini­ciou uma impor­tante dis­cussão sobre a intro­dução da escri­ta de lín­gua de sinais, desta­can­do o sign­wit­ing como tec­nolo­gia na escri­ta, alfa­bet­i­za­ção e letra­men­to de pes­soas sur­das, desta­can­do ain­da as pos­si­bil­i­dades aber­tas pela lin­guagem para o reg­istro da cul­tura sur­da (Stumpf, 2005).

Como é uma lin­guagem pic­tóri­ca, a escri­ta requer algu­ma habil­i­dade grá­fi­ca e essa é uma difi­cul­dade con­sid­eráv­el para a difusão da escri­ta entre os sur­dos. Essa difi­cul­dade é mino­ra­da pelos os avanços na WEB de fer­ra­men­tas assis­ti­vas, orga­ni­zan­do sis­temas inter­a­tivos para for­mar um grande ban­co de dados de rep­re­sen­tações pic­tóri­c­as dos sinais, o quê tor­na a ativi­dade de ensi­no e o uso bem mais fácil. Isso foi feito através de um sis­tema (entre out­ros) denom­i­na­do “Sign­Pud­dle” , disponi­bi­liza­do na rede no site https://www.signbank.org/.

Essa tec­nolo­gia per­mite que livros em LIBRAS pos­sam ser disponi­bi­liza­dos para sur­dos, deixan­do de requer­er a tradução LIBRAS para por­tuguês. Usa­dos como mate­r­i­al didáti­co em aulas, suprem difi­cul­dades históri­c­as da obtenção de mate­ri­ais didáti­cos para sur­dos. Simul­tane­a­mente, dicionários de LIBRAS on-line, ilustra­dos nor­mal­mente com desen­hos grá­fi­cos, tradução da palavra em por­tuguês e seu sig­nifi­ca­do, tal qual um dicionário comum, adi­cionaram a grafia do sinal em Sign­writ­ing per­mitin­do a ampli­ação e dis­sem­i­nação do méto­do e a uti­liza­ção con­jun­ta entre sur­dos e ouvintes (uma obra de refer­ên­cia e exem­p­lo dessa práti­ca no Brasil é Capovil­la, Raphael, Temo­teo, & Mar­tins (2017).

Con­tu­do, apre­sen­ta uma restrição que deve ser lev­a­da em con­ta: ain­da é peque­na a quan­ti­dade de sur­dos que con­hecem o Sign­writ­ing, e o domínio do méto­do é por si só um desafio educacional.

3.2 Tradu­tores com AVATAR

Tradu­tores com avatar fiz­er­am um enorme suces­so midiáti­co e con­stituem um impor­tante ape­lo para a divul­gação da LIBRAS. É comum encon­trar­mos em shop­pings cen­ters grandes dis­plays tele­vi­sivos repro­duzin­do o Hugo – nome fan­ta­sia do per­son­agem do sis­tema Hand Talk, talvez o de maior suces­so no Brasil.

Pelo menos três sis­temas podem ser encon­tra­dos com refer­ên­cias com­er­ci­ais na inter­net brasileira com esse tipo de recur­so tec­nológi­co: o ProDeaf, o Hand Talk, e o Rybe­na. O primeiro deixou de ser com­er­cial­iza­do, e foi incor­po­ra­do ao Hand Talk, que o com­prou. O Rybe­na per­manece disponív­el nas lojas vir­tu­ais de aplica­tivos para celu­lares, mas sem dúvi­da o Hand Talk tem um mer­ca­do muito maior.

Segun­do a empre­sa pro­du­to­ra, o aplica­ti­vo tem mais de três mil­hões de down­loads, faz mais de doze mil­hões de traduções a cada mês, e foi pre­mi­a­do diver­sas vezes e por várias insti­tu­ições ao redor do mun­do (http://www.handtalk.me/br, con­sul­ta­do em 10/12/2020). O alagoano Ronal­do Tenório foi con­sid­er­a­do pelo pres­ti­gia­do MIT um dos jovens mais ino­vadores do mun­do; con­cur­sos de aplica­tivos mobile com patrocínio da ONU elegeram o soft­ware como o mel­hor do mun­do em tec­nolo­gia social.

 O per­son­agem Hugo (ou, mais recen­te­mente, a Maya) é ape­sen­ta­do em 3D, e con­segue faz­er recon­hec­i­men­to de voz e tex­to e traduzir para LIBRAS e, mais recen­te­mente, para ASL – Amer­i­can Sign Lan­guage. É uma proeza e tan­to para um aplica­ti­vo cri­a­do em um pequeno esta­do da região Nordeste do Brasil. 

A final­i­dade com­er­cial mais poderosa do aplica­ti­vo é a com­er­cial­iza­ção para empre­sas que bus­cam tornar seus sites mais acessíveis. Assim, o Hugo da Hand Talk pode ficar “embu­ti­do” em sites com­er­ci­ais de qual­quer empre­sa, sendo aciona­do por sur­dos ou con­hece­dores da LIBRAS ou ASL para traduzir o con­teú­do escrito.

O suces­so da Hand Talk estim­u­lou ini­cia­ti­vas pare­ci­das ao redor do mun­do. A insta­lação em dis­plays grandes em ambi­entes de grande públi­co, como shop­pings, deu uma enorme vis­i­bil­i­dade ao pro­du­to e, por con­se­quên­cia, aos próprios sur­dos e sua língua.

No âmbito públi­co, uma parce­ria entre o Min­istério da Econo­mia (ME), por meio da Sec­re­taria de Gov­er­no Dig­i­tal (SGD) e a Uni­ver­si­dade Fed­er­al da Paraí­ba (UFPB), deu origem ao VLi­bras, que é “um con­jun­to de fer­ra­men­tas com­puta­cionais de códi­go aber­to, que traduz con­teú­dos dig­i­tais (tex­to, áudio e vídeo) para Lín­gua Brasileira de Sinais – LIBRAS”. Suas fer­ra­men­tas são gra­tu­itas e podem ser aces­sa­do em https://www.vlibras.gov.br/# (recu­per­a­do em 10/12/2020).

Fal­ta men­cionar um impor­tante aler­ta: para os sur­dos, a tec­nolo­gia basea­da em AVATAR con­tin­ua a ser uma tradução super­fi­cial e robóti­ca da lín­gua de sinais. Emb­o­ra facilite para con­teú­dos padroniza­dos e pequenos, e seja até uma fer­ra­men­ta inter­es­sante para a sala de aula e para o ensi­no da LIBRAS para ouvintes, a eficá­cia para os sur­dos é restri­ta. Claro que, no futuro, a tendên­cia é de desen­volvi­men­to do aplica­ti­vo, que a cada nova ver­são parece se tornar mais efi­caz. No entan­to, como os próprios cri­adores da tec­nolo­gia advertem, ele não foi con­ce­bido para sub­sti­tuir os intér­pretes de LIBRAS.

3.3 Cen­trais de Intér­pretes em vídeo

As Cen­trais de Intér­pretes difer­em dos sis­temas com avatar por uti­lizarem intér­pretes humanos, profis­sion­ais capac­i­ta­dos a faz­er a tradução entre o por­tuguês e as lín­guas de sinais. Exis­tem vários serviços desse gênero em fun­ciona­men­to, sendo bas­tante famoso nos EUA o serviço provi­do pelo web­site CONVO (https://www.convorelay.com/shopdeaf, recu­per­a­do em 10/12/2020). No Brasil pode ser cita­do o ICOM LIBRAS (https://www.icom-libras.com.br/, recu­per­a­do em 10/12/2020).

As Cen­trais uti­lizam recur­sos téc­ni­cos de vídeo por stream­ing on-line para, usan­do mais comu­mente celu­lares, conec­tar o sur­do ao intér­prete, em uma espé­cie de tri­an­gu­lação da comu­ni­cação entre o sur­do e pes­soas que descon­hecem a lín­gua de sinais. O serviço per­mite ao sur­do um enriquec­i­men­to da comu­ni­cação, pois a tradução ofer­e­ci­da pelo intér­prete tem uma gama muito mais vas­ta de possibilidades.

A sala de aula con­ven­cional do sur­do em tese dis­pen­sa esse tipo de recur­so, pois exige a pre­sença do intér­prete humano durante o horário da aula. No entan­to, as Cen­trais de Intér­pretes estão bus­can­do ampli­ar a gama de serviços presta­dos, poden­do inter­a­gir em vídeos-con­fer­ên­cias on-line, por exem­p­lo. Além dis­so estão bus­can­do gravar alguns con­teú­dos, que podem ser disponi­bi­liza­dos on-line e facil­i­tar grande­mente o dia a dia do usuário de LIBRAS, entran­do em áreas não con­ven­cionais. Um exem­p­lo seria a tradução de man­u­ais de uso de equipa­men­tos ven­di­dos on-line. Um man­u­al de automóv­el por exem­p­lo é ofer­e­ci­do pelos fab­ri­cantes em diver­sos idiomas, porém nun­ca em LIBRAS, ape­sar de haver sur­dos con­sum­i­dores dess­es produtos.

Na sala de aula que pre­tende tornar-se o mais acessív­el pos­sív­el, além da pre­sença do intér­prete nas sessões pres­en­ci­ais ou on-line onde há a comu­ni­cação dire­ta, vídeos e tex­tos podem ser ofer­e­ci­dos inter­pre­ta­dos em sinais.

Um exem­p­lo da riqueza de apren­diza­gem que esse tipo de práti­ca pode sug­erir é ofer­e­ci­do pelo tra­bal­ho de pro­fes­sores que estão gra­van­do aulas on-line em LIBRAS, e assim suprindo lacu­nas impor­tantes da edu­cação de surdos.

Assim, a ofer­ta ampli­a­da dess­es serviços e seu finan­cia­men­to por recur­sos públi­cos pode per­mi­tir um avanço na disponi­bil­i­dade de mate­ri­ais de refer­ên­cia para o ensi­no-apren­diza­gem das pes­soas surdas.

4 O Aler­ta Ético

A tec­nolo­gia pro­por­ciona inúmeros avanços à sociedade, com bene­fí­cios a cada dia mais explíc­i­tos. Bersch (2017), como Galvão Fil­ho & Dam­a­s­ceno (2002), atribuem a Rad­abaugh (1993) uma frase que nos leva a refle­tir sobre como ess­es avanços tec­nológi­cos são ain­da mais vitais para algu­mas pes­soas em espe­cial: “para as pes­soas sem defi­ciên­cia a tec­nolo­gia tor­na as coisas mais fáceis. Para as pes­soas com defi­ciên­cia, a tec­nolo­gia tor­na as coisas possíveis”.

Mas ao lon­go da história, percebe­mos que o pre­con­ceito social e a incom­preen­são sobre as difi­cul­dades do sur­do para a apren­diza­gem causaram mais male­fí­cios às pes­soas sur­das que a própria pri­vação da audição (Mor­eira, 2007). Somente o puro pre­con­ceito e a ignorân­cia podem jus­ti­ficar o temor que algu­mas sociedades apre­sen­taram da lín­gua de sinais, pres­ti­gian­do pro­postas – em tristes momen­tos, defen­di­das tam­bém por edu­cadores – de pri­var os sur­dos da pos­si­bil­i­dade de uso dos sinais para obrigá-lo a falar tal qual os ouvintes.

Mes­mo ago­ra, a existên­cia de recur­sos tec­nológi­cos facil­i­ta­dores leva algu­mas pes­soas a imag­i­nar que com isso algu­mas defi­ciên­cias podem ser “tratadas” ou “curadas”, esque­cen­do do com­po­nente humano que fazem as pes­soas se recon­hecerem por suas iden­ti­dades e difer­enças que lev­am, muitas vezes, a uma per­cepção do mun­do e uma capaci­dade de comu­ni­cação dis­tin­tas do con­ven­cional, mas nem por isso imper­fei­ta ou “defi­ciente”.

Dis­por de alta tec­nolo­gia sem levar em con­ta a riqueza da diver­si­dade do humano podem nos levar a achar que robo­ti­zar as pes­soas pode ser uma solução para a vida social. Esque­cer a riqueza da diver­si­dade, agir como se “bran­quear” as pes­soas fos­se pos­i­ti­vo, retomar a mitolo­gia destru­ido­ra que bus­ca­va estandar­ti­zar as pes­soas, “regen­erá-las”, ou ensiná-las a ser mais “dóceis”, elim­i­nar os negros, ou os nazis­tas, ou os sur­dos ou os autistas.

Parece exagero falar em riscos que nos lem­bram os ter­rores das exper­iên­cias nazis­tas? Pois bem, depoi­men­tos de sur­dos em redes soci­ais aler­tam para o temor de que sejam sub­meti­dos, por exem­p­lo, a cirur­gias de implan­ta coclear ou até mes­mo à obri­ga­to­riedade impos­ta pela família e por pro­fes­sores de uso de apar­el­hos audi­tivos (que muitos sur­dos detes­tam). Se ain­da parece pouco, muitos sur­dos relatam exper­iên­cias em sala de aula onde são pri­va­dos do uso das mãos e sofrem cha­co­tas por usar sinais, tidos como “macaquices”.

Esse peri­go nos leva a enfa­ti­zar a neces­si­dade da reflexão sobre a ética:

Quan­do os sur­dos dizem que eles não são defi­cientes, mas sim, mem­bros de uma cul­tura sur­da, eles querem diz­er que os sub­sti­tu­tos fun­cionais e as con­du­tas adap­ta­ti­vas a fal­ta do sen­ti­do da audição, desen­volvi­das por suas comu­nidades ao lon­go de sua história, os habili­tam a viv­er de for­ma digna e ple­na, des­de que seja respeita­da sua lín­gua e sua cul­tura. Com isso tam­bém querem diz­er que as tec­nolo­gias são bem-vin­das quan­do trazem um gan­ho real sem pôr em risco sua inte­gri­dade físi­ca ou psíquica. Por isso desta­camos que as tec­nolo­gias para os sur­dos e os pro­gres­sos cien­tí­fi­cos, sejam qual forem seus obje­tivos, não podem ser dis­so­ci­a­dos das escol­has éti­cas. (Stumpf, 2010, p. 9)

Se a tec­nolo­gia assis­ti­va pode pro­por­cionar mar­avil­has e facil­i­tar a vida das pes­soas com defi­ciên­cia, ela tam­bém pode, se usa­da sem os dev­i­dos cuida­dos éti­cos e o ade­qua­do con­hec­i­men­to cien­tí­fi­co, prej­u­dicar a sociedade a asso­ciar-se a visões fascis­tas da humanidade.

5 Con­sid­er­ações Finais 

Neste arti­go, apre­sen­ta­mos uma refer­ên­cia con­ceitu­al de tec­nolo­gias assis­ti­vas para dis­cu­tir sua uti­liza­ção no caso especí­fi­co de pes­soas com sur­dez, com neces­si­dades especí­fi­cas de apren­diza­gem em lín­gua de sinais. Para isso foi necessário dis­tin­guir entre a LIBRAS e um dos seus pos­síveis méto­dos de escri­ta, o sign­wrint­ing que não são, por sí, tec­nolo­gias e sim artefatos da cul­tura dos sur­dos, que pre­cisam de uma lín­gua capaz de dis­pen­sar refer­ên­cias auditivas.

Assim, aden­tramos um pouco no con­ceito da cul­tura sur­da, já que a iden­ti­dade lin­guís­ti­ca for­ma elos cul­tur­ais que asse­gu­ramos aos sur­dos uma iden­ti­dade cul­tura especí­fi­ca. Para essas pes­soas, três tec­nolo­gias especí­fi­cas foram exam­i­nadas em sua capaci­dade de ala­van­car suas neces­si­dades de ensi­no-apren­diza­gem: a escri­ta do sign­writ­ing; a tradução da LIBRAS por avatares que fazem recon­hec­i­men­to dig­i­tal de voz ou tex­to; fer­ra­men­tas de aprox­i­mação de intér­pretes de LIBRAS usan­do stream­ing online de vídeo.

As três fer­ra­men­tas prop­i­ci­am inter­es­santes opor­tu­nidades de apli­cação em sala de aula, e todas elas nascem de avanços tec­nológi­cos recentes no uso das tec­nolo­gias WEB e sua inte­gração em dis­pos­i­tivos mobile como os celu­lares, de uti­liza­ção cada vez mais dis­sem­i­na­da. São assim veícu­los de uma cul­tura dig­i­tal cada vez mais pre­sente em nos­sa época, e que nos per­mite con­viv­er com as difer­enças entre as pes­soas, via­bi­lizan­do um son­ho antes impos­sív­el ao con­hec­i­men­to humano, como a tradução automáti­ca de lín­guas, orais ou visuais.

Ape­sar do avanço que sig­nifi­cam e dos efe­tivos apoios que per­mitem ao ensi­no, um aler­ta especí­fi­co sobre as questões éti­cas evo­cadas pelo avanço tec­nológi­co nos ramos da edu­cação espe­cial foi feito pelo autor, seguin­do a esteira de reno­ma­dos espe­cial­is­tas da área. Assim, emb­o­ra tec­no­logi­ca­mente pos­sív­el bus­car a con­vivên­cia de cul­turas difer­entes, é cada vez mais vital preser­var o dire­ito fun­da­men­tal dessas pes­soas a seus laços de iden­ti­dade cultural.

Impos­sív­el admi­tir que a mod­ernidade nos tra­ga de vol­ta a ideia fascis­tas de “curar” os difer­entes pela extinção ou mod­i­fi­cação arbi­trária das suas car­ac­terís­ti­cas – no caso dos sur­dos, de lín­gua e cul­tura — que o fazem dis­tin­to e úni­co. Cada vez mais nos com­preen­demos como seres humanos pelo respeito e capaci­dade de con­viv­er com nos­sas difer­enças e defi­ciên­cias. 

6 Refer­ên­cias Bibliográficas

Barth, C., & San­tarosa, L. (2005). Tecla­do Vir­tu­al para a Escri­ta da Lín­gua de Sinais. Nuevas Ideas en Infor­máti­ca Educa­ti­va. XI Con­gres­so de Infor­máti­ca Educa­ti­va, San­ti­a­go del Chile. http://www.tise.cl/volumen1/TISE2005/15.pdf

Bersch, R. (2017). Intro­dução à Tec­nolo­gia Assis­ti­va. Por­to Ale­gre, RS. Assis­ti­va Tec­nolo­gia e Edu­cação. http://www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf.

Capovil­la, F. C., Raphael, W. D., Temo­teo, J. G., & Mar­tins, A. C. (Orgs.). (2017). Dicionário da língua de sinais do Brasil: A Libras em suas mãos (1a̲ edição, 1a̲ reimpressão). EDUSP.

Galvão Fil­ho, T., & Dam­a­s­ceno, L. (2002). As novas tec­nolo­gias e a Tec­nolo­gia Assis­ti­va: Uti­lizan­do os recur­sos de aces­si­bil­i­dade na edu­cação espe­cial. III Con­gres­so Ibero-amer­i­cano de Infor­máti­ca na Edu­cação Espe­cial, Fortaleza.

Lage, A. L. da S., & Kel­man, C. A. (2019). Edu­cação de sur­dos pelo pro­fes­sor sur­do, Fer­di­nand Berthi­er: Encar­an­do descon­cer­tantes para­dox­os e longevas lições. Revista Brasileira de História da Edu­cação19, e050–e050. https://doi.org/10.4025/rbhe.v19.2019.e050

Mor­eira, P. (2007). O fator lin­guís­ti­co na apren­diza­gem e desen­volvi­men­to cog­ni­ti­vo da cri­ança sur­da. Porsi­nal. http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=72

Per­lin, G., & Stro­bel, K. (2014). História cul­tur­al dos sur­dos: Desafio con­tem­porâ­neo. Edu­car em Revista, spe‑2, 17–31. https://doi.org/10.1590/0104–4060.37011.

Stumpf, M. R. (2005). Apren­diza­gem de escri­ta de lín­gua de sinais pelo sis­tema Sign­writ­ing: Lín­gua de sinais no papel e no com­puta­dor. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/5429

Stumpf, M. (2010). Edu­cação de Sur­dos e Novas Tec­nolo­gias. UFSC, Flo­ri­anopólis, SC.

[1] Grad­u­ação. Espe­cial­iza­ção. Mes­tran­do em Tec­nolo­gias Emer­gentes em Edu­cação pela Must Uni­ver­si­ty. E‑mail.

[2] Bersch (2017), apoia-se nos autores Cook e Hussey (1995), que por sua vez reme­tem o con­ceito ao ADA — Amer­i­can with Dis­abil­i­ties Act.

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Oliveira Jr.

Economista. Especialista em Ciências Sociais (Estado e Sociedade no Nordeste do Brasil) e Empreendedorismo. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University, 2022).

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